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Pela manuteno dos bons resultados 31e15

por Feed&Food
17/02/2022 - 15:00

Por Joo Paulo Monteiro 495f64

Texto originalmente publicado na revista Feed&Food, edio de fevereiro de 2022.

Para a pecuria de corte brasileira, 2021 se mostrou como uma continuidade do ano anterior, ou seja, um cenrio dominado pela falta de animais para abastecimento do mercado domstico e preos em alta, realidade essa observada nos ltimos trs anos.

Desde o fim de 2018 h um movimento de reteno de fmeas na cadeia produtiva brasileira, com aumento dos preos das categorias de gado para reposio e do boi gordo, estimulando o investimento na cria e recria.

“Para se ter ideia, em 2021 o nmero de fmeas abatidas at setembro caiu 15,8% em relao ao mesmo perodo de 2020, ao considerarmos vacas e novilhas e, em relao a 2019, o abate de fmeas recuou 29,7%”, contextualiza o zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria, Felipe Fabbri.

E nesse mesmo perodo, desde 2018, a participao da produo de carne bovina nas exportaes brasileiras subiu de cerca de 16% para 25% em 2021, em meio crise sanitria vivida pela China com o surto de Peste Suna Africana.

Dados da Abrafrigo, a Associao Brasileira de Frigorficos, evidenciam a magnitude dos negcios em 2021: as exportaes totais de carne (incluindo produtos in natura e processados) apresentaram queda de 7,37% no volume, porm, houve um crescimento de 8,85% na receita em comparao com a movimentao de 2020.

Segundo a entidade, o Brasil movimentou 1,8 milho de toneladas no ano, o que representou um montante superior a 9,2 bilhes de dlares.

“O ano de 2021 foi positivo, abaixo apenas de 2020 e 2019, recordes consecutivos para o setor. Com relao ao faturamento, a associao de uma depreciao de nossa moeda e alta nos preos no mercado pecurio levou, mesmo com o volume menor embarcado, a um recorde”, analisa Felipe.

O cenrio de custos em alta e margens apertadas pressionou o pecuarista brasileiro, acarretando em uma maior profissionalizao da atividade. “Ano aps ano vemos um aumento nos pesos de carcaas dos bovinos abatidos no Brasil; isso em meio a uma maior participao das exportaes China, que envolvem animais abatidos at 30 meses, ou seja, mais jovens, o que pressionaria essa questo dos pesos de carcaa”, exemplifica Felipe.

O avano no uso de tecnologias reprodutivas (uso de material gentico, Inseminao Artificial em Tempo Fixo – IATF, etc.), suplementao mineral nos perodos das guas e secas, aumento dos sistemas de integrao-lavoura-pecuria e confinamentos evidenciam esse cenrio. “Ainda h um grande caminho para trabalharmos”, reconhece o zootecnista e exemplifica: “Principalmente na recuperao das nossas pastagens e melhor utilizao dos recursos j disponveis”.

Diante da imprevisibilidade do cenrio poltico e econmico, outro ponto de alerta levantado por Felipe so os dispositivos de gesto de risco, como seguro do preo do boi e do milho, por exemplo. “Em 2021, dentro da amostra do Confina Brasil, que mapeou mais de 40% do gado confinado no Pas, apenas 1/3 dos produtores trabalhavam com algum tipo de ferramenta de gesto/garantia de preos”, informa.

Ou seja, esse tipo de ferramenta ainda precisa entrar na rotina do pecuarista, orienta o analista, que deixa claro: “O ano tpico na agropecuria sempre um ano atpico. No h moleza. Essa foi a grande lio que 2021 nos deixou e, para 2022, tambm seguir como principal ponto de aprendizado pecuria nacional”.

Uma das principais fortalezas de todo o segmento da protena animal brasileira a questo sanitria, grande responsvel pelo sucesso internacional da carne verde e amarela.

E na pecuria isso no diferente, a sanidade um dos diferenciais do Brasil. O recente caso de encefalopatia espongiforme bovina no Pas um excelente exemplo da confiana depositada no setor. “Confirmados os casos atpicos da enfermidade, o Brasil no sofreu nenhum tipo de alterao, segundo as autoridades competentes (Organizao Mundial da Sade Animal) e, em menos de duas semanas, a questo estava solucionada”, relembra Felipe e faz uma ressalva: “H polticas bilaterais entre o Brasil e seus clientes, como a China, que permitiram a manuteno da suspenso por tempos maiores independente do problema resolvido”.

Neste cenrio internacional, de demanda aquecida, a pecuria brasileira v um futuro de boas oportunidades. E dentro da porteira? Quais os principais pontos a serem destacados?

Na viso de Felipe Fabbri, os preos para as categorias de reposio, principalmente bezerros, e o aumento da oferta de vacas para abate sinalizam o perodo de transio do ciclo pecurio: “Essa forte reteno nas fmeas dos ltimos anos acarretar em um aumento de bezerros, que dever comear a ser sentido agora em 2022 e se estender por 2023/24”.

Essa elevao da oferta, continua o analista, tende a pressionar os preos e desestimular a manuteno de fmeas no plantel, principalmente nos perodos de maro e maio, historicamente os meses com maior quantidade de fmeas abatidas.

“Esse primeiro ms est relacionado ao final da estao de monta, e o segundo, chegada da seca no Brasil Central, com a desova de final de safra”, acrescenta o zootecnista.

Assim, em evoluo e com gargalos diagnosticados, a pecuria brasileira seguir competitiva e relevante no mercado internacional durante os prximos anos, confia o analista de mercado.

“Pensando em 2022, os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontam para um acrscimo de 7,8% nas importaes de carne bovina da China. Se tomarmos como base o mercado brasileiro, como principal parceiro do pas, podemos, certamente, apostar em um ano positivo em relao exportao brasileira”, argumenta e completa: “Alm disso, a volta da Rssia s compras de carne bovina e a consolidao de outros importantes players em 2021, como Egito e Estados Unidos, reforam esse vis”.

A somatria dessas expectativas, aliado a possibilidade de novas aberturas de mercado, como Canad, Coreia do Sul e Japo, justificam a projeo de uma receita na casa dos 10 bilhes de dlares, segundo a Associao Brasileira das Indstrias Exportadoras de Carne (Abiec).

Matria disponvel em: https://www.revistafeedfood.com.br/pub/curuca/#page/58