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Remdios agrcolas e humanotxicos: quanto menos, melhor 3g5r2r

por Sergio Raposo de Medeiros
30/03/2022 - 12:00

Atualmente, todos os debates so muito polarizados e a falta de ponderao interdita que um senso comum mais razovel aflore. A era da informao fartamente disponvel, com respostas em milionsimos de segundos, deveria permitir avanos rpidos e facilitar consensos. Todavia, como frequentemente ouvimos, somos uma espcie que opera softwares do sculo XXI, mas nosso “hardware” cerebral mantm circuitos neuronais dos tempos da caverna. 3562d

O inimigo a ser combatido

Podemos culpar muito essa arquitetura cerebral da idade da pedra com a dificuldade em aceitar algo diferente do que se acredita ser o “certo” ao buscar informaes, buscarmos dar crdito a tudo que nossa cognio identifica como bom e desacreditar o que estiver em desacordo com nossas crenas e convices, o chamado “vis de confirmao”. Guarde bem esse nome: o do inimigo a ser combatido.

Mesmo problema – ponto de vista diferente

Coraes e mentes abertas a toda e qualquer informao que nos chega, nos ajudam a compreender melhor o todo. um esforo de empatia, de tentar entender as motivaes de pessoas que enxergam o mesmo problema, mas com o ponto de vista diferente do nosso. De incio, exige muita energia, pois h desconforto na dissonncia, tanto maior quanto for o antagonismo entre as vises sobre determinado assunto.

Conciliao de teses 4y196i

O esforo se paga pois, ou melhoramos nossos argumentos para manter a posio, ou, vencidos pela lgica e exercendo um ato de humildade cada vez mais raro, reconhecemos que aquela nossa posio insustentvel. Nesse caso, o maior prmio ter uma nova certeza, mas do lado correto, livrando-se da teimosia de esmurrar pontas de facas. H, tambm, sempre a hiptese de conciliao de teses, quando, ponderado todos os pontos da questo, cada polo do debate mostra que parte da questo mais bem solucionada por ideias de cada parte ou por um “mix” entre elas.

Agrotxicos e humanotxicos 5296o

No caso da agropecuria, um tema que desperta paixes e cujos debates so muito interditados por posies extremas o do uso de produtos qumicos. A briga comea na terminologia, com o uso do termo agrotxicos pelos detratores contra o termo defensivo agrcola pelas empresas e agropecuaristas. Aqui, remeto-me a primeira vez que ouvi sobre o assunto, ainda criana, com minha av paterna dizendo que havia comprado remdio para dar s plantas, no caso um inseticida. Aqui, em um pas notoriamente hipocondraco, faria a sugesto de chamar os remdios humanos de humanotxicos, pois da mesma forma que a defesa do termo agrotxico ajudaria a reduzir seu uso indevido, assim seria para os nossos remdios do dia a dia.

Pontos comuns b642j

Os pontos comuns entre agrotxicos e humanotxicos so vrios: eles so teis, devem ser empregados apenas quando estritamente necessrios e usados na menor quantidade possvel, mas nunca menos, pois subdosagens so at piores do que errar um pouco para mais.

Objeto de desejo 3e1m33

No caso das pessoas distantes do campo, ou seja, a maior parte dos brasileiros, parece haver a ideia de que o produtor tem interesse ativo no uso de defensivos, como se eles fossem objeto de desejo, a fim de produzir mais. Na verdade, eles so uma significativa fonte de custo e, por isso, usados com parcimnia, com a inteno de evitar a reduo da expectativa de produtividade. Quando bem utilizados, eles tm sim benefcio: custo favorvel, ou seja, quando a perda evitada foi maior do que o investimento feito em sua compra e aplicao. Mas, se apresentada uma opo vivel de controle mais barata que dispense seu uso, o produtor de bom grado aceitar.

Efeitos colaterais 6c4j17

Portanto, o interesse entre o ativista e o produtor rural contra o uso de agroqumicos tem uma interseco bem grande. O que, tambm, esse ativista no considera que sua bem-intencionada luta pode gerar tambm seus efeitos colaterais. Assim, imaginemos que, do dia para noite, seu desejo de uma agricultura livre de produtos qumicos fosse magicamente concedido. Muito provavelmente, no demoraria para que a reduo de oferta de alimentos, pelas perdas com pragas e doenas no controladas, gerasse uma carestia na alimentao que o convencesse a rever sua posio.

Ter a praga como scia

Com relao aos manejos, j temos casos de sucesso que atendem pela sigla MIP, ou seja, o manejo integrado de pragas. Como o nome diz, o problema enfrentado usando um conjunto de prticas que reduzam o risco do aparecimento das pragas, incluindo o uso de materiais mais resistentes, prticas de cultivo, seguir risca determinado calendrio de plantio e, a parte mais interessante, que o monitoramento da presena de pragas e a determinao do nvel de dano econmico. Basicamente, o conceito que o embasa poder ser explicado assim: abaixo do prejuzo que ele causa, melhor ter como “scia” a prpria praga do que a empresa que vende o produto, pois o “preo” da praga ainda estaria menor do que o custo para control-la.

Ser seletivo

comum que o ativista antiveneno imagine que, para compensar a empresa ser scia, ela deve procurar cada vez produtos mais “fortes” e, portanto, piores ao ambiente, o que o faz ainda mais determinado na sua luta. Todavia, na realidade, ocorre exatamente o contrrio, pois cada vez mais os produtos tentam ser seletivos, no apenas para serem menos perigosos no manuseio e a sade humana, mas porque eles so mais eficientes, ao reduzirem o estrago com o restante da fauna, evitando a morte dos inimigos naturais das pragas.

Isso mostra como importante a biodiversidade e como as solues baseadas na natureza devem ganhar espao. J faz parte do MIP considerar usar o controle biolgico e trata-se de uma soluo que tem ganhado cada vez mais espao, mais uma vez pesando o fato dela estar se tornando mais eficiente e vantajosa do ponto de vista econmico.

Maravilhosos aplicativos 62xs

Sem esgotar as oportunidades de reduo de uso de pesticidas e congneres, a agropecuria 4.0 e seus maravilhosos aplicativos, sensores e equipamentos esto possibilitando a identificao precoce e muito localizada dos problemas, a atuao de forma extremamente direcionada em contraste com aplicao em rea total, com mais informaes em tempo real, que permitem a reduo de uso e o aumento de eficcia.

Soluo definitiva? 3a3w5

Em todos os pontos citados, existem grupos de pesquisa trabalhando para novos avanos. Outros grupos, procuram maneiras de produzir alimentos usando alternativas que simulem mais os ambientes naturais, de forma a terem ambientes menos favorveis ao surgimento de danos de nvel econmico. So mais caminhos que se abrem e devem ser aprimorados. Infelizmente, muitas vezes so colocados como a soluo definitiva para o abandono do uso de venenos na produo de alimentos, mesmo que sejam dificilmente escalveis de forma que possam responder por toda a demanda de mais de 7 bilhes de bocas que habitam nosso planeta.

Final – ativista ambiental x produtor rural 4p3b3o

No quadro 1 est o lado de cada parte e a possibilidade de consenso, tendo num polo o ativista ambiental e, no outro, um produtor rural.

Quadro 1.Polos de um ativista ambiental e um produtor rural e a possibilidade de consenso.


O desejo comum de todos reduzir a necessidade do uso. O melhor caminho investir em cincia, com melhores prticas de manejo, novos princpios ativos e aplicaes cada vez mais cirrgicas deles no campo.