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Radar Sanitrio para agosto de 2024 - Parte 1 71542y

por Enrico Ortolani
05/08/2024 - 06:00

Vermifugao estratgica em rebanhos do Brasil-Central b49n

Vrios estudos identificaram que os bovinos, da desmama at os dois anos de idade, criados na rea chamada Brasil-Central Pecurio (regies baixas e litorneas de SC, PR, todos estados das regies sudeste e centro-oeste, RO, AC e sul do AM, PA, MA e PI, centro e sul da BA) necessitam ser vermifugados estrategicamente trs vezes ao ano, no esquema chamado “5-8-11”. No ms “8”, agosto, hora da 2 vermifugao em bovinos dessa faixa etria (figura 1). Recomendo nessa etapa o uso de vermfugos a base de levamisole. A ideia da vermifugao estratgica diminuir os vermes, no decorrer do ano, nos animais mais jovens, que tm maior risco de verminose, e reduzir muito a contaminao das pastagens com larvas dos futuros helmintos. Segundo testes que acompanhei, essas vermifugaes estratgicas, garantem ao final do ano uma arroba a mais que os bovinos vermifugados s na campanha da aftosa (maio e novembro) e quase 50 kg a mais dos no tratados. No esquea! 6b53o

Figura 1.
Vermifugue agora todos os bovinos desmamados at dois anos.


Fonte
: Enrico L. Ortolani.

Bezerrada est nascendo: cuidados com a cria 5q2633

Voc est careca de saber dos cuidados com a cria no nascimento. Muitos bezerros morrem de diarreia dos 12 aos 20 dias de idade. A frequncia da diarreia mais alta em bezerros que nascem em piquetes de pario repetitivamente utilizados e no trocados por anos, que vo ficando cada vez mais contaminados; em reas sujas e com capim alto; e em locais alagadios ou muito midos. Se assim for, troque o piquete de pario por uma rea limpa, plana e descontaminada. Em locais mais frios prefira piquetes que tenham cercas vivas (figura 3), para evitar o vento direto na cria. Cure o umbigo com soluo de iodo a 6,0% (figura 2) ou com medicamentos apropriados, jamais empregando apenas spray larvicida. Use antiparasitrio injetvel para prevenir a bicheira. Dentre os disponveis no mercado, selecione produtos base de doramectina, que ainda apresentam maior ao contra as larvas, evitando aqueles a base de ivermectina. Segundo constataes, tratamentos com antibiticos no primeiro dia de vida no surtem efeito na preveno de futuras infeces no umbigo. Boa sorte e trate bem da sua bezerrada!

Figura 2.
A cura correta do bezerro fundamental para a vida.


Fonte: Enrico L. Ortolani.

Figura 3.
Em locais frios, privilegie piquetes de pario com cerca-viva.


Fonte: Enrico L. Ortolani.

Foco de Newcastle em aves acende o sinal amarelo em relao febre aftosa 1w3d5e

Poucos meses aps o MAPA declarar os ltimos estados do Nordeste do pas livres de febre aftosa sem vacinao, a deteco de um foco da doena de Newcastle no municpio de Anta Gorda, no norte do estado do Rio Grande do Sul, no dia 17 de julho, pegou todos de surpresa.

A doena viral nas aves no era diagnosticada desde 2006, aps um surto em granja de subsistncia no MT. O atual foco determinou que todos os 7.000 animais da propriedade fossem sacrificados (figura 4), que os galinceos criados nos quatro municpios circunvizinhos fossem impedidos de serem movimentados e que as 700 outras granjas ao redor fossem mantidas sobre enorme vigilncia sanitria.

Na minha opinio, o MAPA tomou a deciso correta e corajosa de fechar a exportao de carne de aves, at dia 29 de julho. Os muitos pases concorrentes na exportao e os compradores de aves pressionaro o Brasil para ganhar mercados ou para diminuir o preo comercializado da carne de frango. Com a parada temporria na exportao perderemos alguns bilhes de dlares, mas ganharemos e manteremos nossa credibilidade sanitria frente ao mercado mundial, onde at o dia do foco ramos lderes, e com certeza reassumiremos tal liderana at o incio do ano que vem. Mas tudo isso com um prejuzo financeiro.

Mas qual a ligao da doena de Newcastle e a febre aftosa? Aparentemente, so doenas diferentes, em espcies animais tambm diferentes, mas ambas so causadas por vrus muito contagiantes e com facilidade de ser transmitidos. Alm do mais, os rebanhos de aves no eram vacinados desde o controle do ltimo surto, indo para o mesmo caminho os bovinos, em relao febre aftosa. Vejo ainda outra coincidncia: Newcastle pode ser transmitida por aves silvestres e na febre aftosa por mamferos com cascos bipartidos (ovinos, sunos, antlopes, sunos, javalis, bfalos de reservas que no so vacinados etc.).

O foco de Newcastle em Anta Gorda RS no aconteceu por acaso, algum erro na preveno da doena ocorreu para o surgimento do vrus, num local aparentemente isolado. O mesmo risco pode acontecer com a febre aftosa e qualquer descuido pode resultar na volta da maldita doena entre ns. Lembrando que no foco de aftosa no MS, em 2005, contabilizamos o sacrifcio de mais de 4.000 bovinos (figura 5), a no exportao de carne para a Europa por 10 anos, para o Chile por 7 anos, Rssia e Egito por mais de um ano, e um prejuzo econmico de pelo menos 7,0 bilhes de dlares americanos. O site do MAPA dizia que o vrus de Newcastle estava erradicado no Brasil, quando eu afirmaria que estava apenas controlado. Todos ns da cadeia pecuria somos responsveis na vigilncia e preveno da febre aftosa. O vrus ainda circula na Venezuela e por vezes na divisa com a Colmbia. O sinal amarelo deve ficar o o tempo todo. Barbas de molho!

Figura 4.
Sacrifcio de milhares de aves num galpo.


Fonte: Nadis animal health skills.

Figura 5.
Sacrifcio de bovinos por febre aftosa.


Fonte: BBC News.

Surtos de brnquio-pneumonia em recriados em So Paulo 28512y

Importante veterinrio de campo acompanhou dois surtos de brnquio-pneumonia em rebanhos dos municpios de Buri (Regio de Itapetininga) e de Ocauu (Regio de Marlia), em bovinos de recria, meio-sangue, de cerca de um ano de idade. Na primeira localidade 30 fmeas apresentaram a doena, num total de 1.000 recriadas (morbidade de 3,0%), e no segundo local 10, machos e fmeas, num total de 200 bovinos (5,0% morbidade). Em Buri morreram cinco (letalidade de 16,7%) fmeas e em Ocauu inexistiram mortes. Coincidentemente, todos os animais desses locais apresentaram visivelmente o quadro cerca de dois a cinco dias aps uma breve friaca, com durao de trs dias consecutivos, com mnimas variando de 8,0 C a 11,0 C em Buri, e 10,0 C a 12,0 C em Ocauu. Foi ainda relatado que os animais estavam em pastos bem abertos e submetidos s correntes de vento. Os animais mais debilitados e magros foram os mais afetados pelo quadro e coincidentemente os que morreram tinham viajado ao redor de 500 km para a nova propriedade, alguns dias antes.

O quadro clnico se caracterizou pelo abatimento, febre, diminuio da ingesto de alimentos, dificuldade respiratria e tosse. Alguns deles tiveram secreo nasal catarro-purulenta ou catarral (figura 6). necropsia detectou-se reas de inflamao e consolidao pulmonar, nas reas anteriores dos dois lados do rgo. O tratamento indicado pelo veterinrio (antibacteriano bactericida e anti-inflamatrio no esteroidal) foi eficaz! Para prevenir novos surtos sugeriu-se a dupla vacinao, com intervalo de 30 dias, dos lotes com vacina contendo antgenos dos principais agentes infecciosos que causam ou facilitam o surgimento de brnquio-pneumonia (figura 7), pois so esperadas novas ondas de frio nos prximos dois meses no estado de So Paulo.

Figura 6.
Bovino eliminando secreo nasal sero-catarral.


Fonte: Enrico L. Ortolani.

Figura 7.
Uso de vacina respiratria previne e alivia a brnquio-pneumonia bacteriana.


Fonte: Enrico L. Ortolani.

Foco de polioencefalomalcea em confinados no Par 6w3t2a

Veterinrio consultor tcnico de confinamentos descreveu o surgimento de cinco caso de polioencefalomalcea (PEM) em garrotes Nelore que tinham acabado de entrar em uma central de engorda, em Redeno, no sul do Par. Ele identificou o problema pelo chamado diagnstico teraputico, quando se confirma a doena a partir de uma terapia bem-sucedida. O interessante desse caso foi que ocorreu em bovinos que tinham acabado de entrar no confinamento (4 ou 5 dia), pois a maioria dos casos ocorre em gado confinado entre o 35 at o 60 dia de cocho.

A poliencefalomalcea (plio = cinza, encfalo = crebro, malcia = amolecimento ou necrose) uma doena decorrente de carncia de vitamina B1, denominada tiamina, ou indiretamente por excesso de enxofre na gua ou na rao, por exemplo, excesso de DDG ou similar. A vitamina B1, nos bovinos adultos, normalmente sintetizada pelas bactrias do rmen e atua, entre outras funes, na proteo dos neurnios, em especial da regio cinzenta do crebro. O estoque de B1 no organismo relativamente baixo e condies que levem ao menor consumo de alimento por vrios dias leva a uma diminuio da produo de B1 pelas bactrias ruminais.

No histrico descrito pelo veterinrio consta que os animais foram deslocados de fazendas de outras regies do estado, que provavelmente no ofertavam suplemento mineral, chegando assim relativamente magros no confinamento (condio corporal 2,5/5). O profissional foi chamado de emergncia para atender os bovinos que manifestaram comportamento estranho, exibindo os seguintes sintomas: sbita cegueira, andar sem direo, como o de um bbado (figura 8), tremores musculares, queda (figura 9), movimento e agitao das pernas (figura 10) etc. Caso no sejam medicados, a PEM pode levar morte.

O surgimento da PEM ainda no totalmente conhecido. Porm, sabe-se que quadros sequenciais de acidose por cidos graxos de cadeia curta, produzidos em excesso no rmen, ou uma severa acidose lctica ruminal podem, alm de eliminar ou desfavorecer o crescimento de bactrias que produzem a vitamina B1, favorecer o crescimento de outros micrbios que destroem a B1, por ao de enzimas (tiaminases). Na Austrlia verificaram que ovinos submetidos a certo grau de desnutrio aumentaram a quantidade de bactrias ruminais que produzem tiaminase. No Brasil, j foram descritos muitos casos de PEM em bovinos de campo, geralmente no perodo de seca, atingindo em muitos casos animais magros. Acredita-se que esses confinados que tiveram PEM j tivessem baixas reservas de B1 no organismo e que o estresse da chegada e da adaptao culminaram com a queda de B1 e destruio desta vitamina. Felizmente a rpida interveno do profissional, e o tratamento com altas doses de B1 e outras terapias rias salvaram todos os animais (figura 11).

Figura 8.
Bovino com PEM: andar de bbado.


Fonte: Adriano Bernardes Silva.

Figura 9.
Bovino com PEM: queda.


Fonte: Adriano Bernardes Silva.

Figura 10.
Bovino com PEM: agitao das pernas.


Fonte: Adriano Bernardes Silva.

Figura 11.
Bovino com PEM: aps o tratamento


Fonte: Adriano Bernardes Silva.