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Radar Sanitrio para dezembro de 2024 3n3n2h

por Enrico Ortolani
11/12/2024 - 18:00

Prezados leitores, informo a todos que por motivos estritamente pessoais, que aps 2,5 anos de ininterruptas publicaes, esta a ltima edio do RADAR SANITRIO. 6v403e

Agradeo imensamente o Portal DBO, em nome do jornalista Demtrio Costa, e o site da Scot Consultoria, em nome do engenheiro agrnomo Alcides Torres, por terem veiculado, com grande destaque este boletim mensal.

Reconheo a grande contribuio que recebi, de mais de cinco dezenas de destacados veterinrios de campo, emritos professores universitrios de todas as regies brasileiras, fabulosos pesquisadores de Instituies de Pesquisa, argutos consultores independentes em sade animal, competentes profissionais de empresas de nutrio e indstrias veterinrias, e fundamentais responsveis pela Defesa Sanitria Animal de 12 estados brasileiros, este ltimos pela informao mensal dos casos de raiva, brucelose, fasciolose e cisticercose bovina em 12 estados brasileiros. Sem vocs no existiria este Boletim!

Agradeo particularmente aos pecuaristas, gerentes de fazendas, profissionais em pecuria, acadmicos, estudantes e demais leitores por prestigiarem mensalmente essa coluna, fazendo com que atingssemos, segundo dados dos prprios editores dos sites, entre 5.915 a 12.576 leitores mensais, os quais enviaram crticas construtivas, incentivaram e rearam as informaes do RADAR para outros. Fico feliz que muitos dados aqui publicados foram citados e serviram de exemplos de discusso em aulas tericas e prticas universitrias e em palestras de profissionais, alm de terem servido de alerta sobre vrias enfermidades transmissveis ou no, e serem motivos de medidas de preveno de doenas em fazendas de corte do Norte ao Sul, Leste ao Oeste de nosso imenso Brasil. Espero com isso, que tenha cumprido meu desejo de informar, quase em tempo real, o que se ou do ponto de vista sanitrio em nossas propriedades. Meu muito obrigado a todos. Sou eternamente grato!

Manejo Sanitrio 4g5d71

No ms de dezembro, poucas atividades aparentemente so feitas nas fazendas de boa parte do Brasil, ideal para fazer um balano geral sanitrio do que ocorreu no ano.

Vacinao contra clostridioses em bezerras 2c233s

No ms ado, em que foram vacinadas as bezerras contra brucelose, sugeri adiar a vacinao contra clostridioses para este ms, visto que um recente estudo brasileiro indica que no se deve vacinar ao mesmo tempo contra brucelose e clostridioses, pois isto faz com que a produo de anticorpos e proteo contra as clostridioses diminua para valer, colocando em risco os animais. Assim, chegou a hora agora de vacinar as fmeas contra as clostridioses, lembrando que os bovinos, a partir de quatro meses, devem receber duas vacinaes com espao de um ms.

Nota importante: As vacinas brasileiras contra as vrias clostridioses retiraram do produto, a proteo contra o carbnculo hemtico (uma outra clostridiose). Assim, em locais que tm risco dessa ltima doena, em especial a regio sul do RS, devem fazer uma vacinao extra com as poucas vacinas exclusivas no mercado (Laboratrios Venco e Labovet) que contm bacterinas contra o Bacillus anthracis, causador desta doena.

Descarrapatizao estratgica no RS e no planalto de SC 5p4w5p

Segundo orientaes da Embrapa, sugere-se a descarrapatizao estratgica do gado bovino, nessas reas citadas, para diminuir a futura infestao de carrapatos nas prximas estaes do ano, que so mais problemticas. Para decidir sobre quais produtos utilizar, pea orientao ao seu veterinrio de confiana, pois os carrapatos tm adquirido resistncia contra mltiplos tipos de carrapaticidas. Para aumentar o ndice de eficcia e escolher o carrapaticida ideal para sua propriedade, faa o teste do biocarrapaticidograma. Alm do Instituto Veterinrio Desidrio Finamor, tambm no Rio Grande do Sul, esse teste pode ser feito no Laboratrio de Parasitologia da UNIPAMPA, contato whatsapp (55) 9 9964-8232 ou pelo email: [email protected] ou pelo @parasitounipampa (Instagram).

Vermifugao estratgica contra Fasciola hepatica no RS e nas regies baixas de SC 4e723m

Segundo orientao da Embrapa, sugere-se nas regies alagadias e que contenham o caramujo que transmite as “larvas” de Fasciola hepatica (baratinha do fgado) do RS e de SC, a vermifugao estratgica do rebanho contra este parasita, que causa grande perda de peso e anemia aos bovinos. Para tal, recomenda-se o uso, sempre consultando seu veterinrio de planto, as seguintes bases de fasciolocidas: tricabendazole, nitroxinil, clorsulon ou closantel.

Balano geral sanitrio do ano 1s2847

Sugiro que no ms de dezembro, seja feito um balano geral da sade no seu rebanho, por meio do clculo de um simples ndice, desde que tenha o registro de todos os nascimentos e mortes no ano. Primeiro, quantifique o nmero global de animais de 1 de dezembro de 2023 a 1 de dezembro de 2024, presente nas seguintes categorias: A) bezerros at desmama, B) da desmama at dois anos, C) de dois a trs anos, D) de trs a 10, E) mais de 10 anos. Multiplique por 100 o nmero de mortes e o resultado deve ser dividido pelo nmero total de animais, dentro da mesma categoria. Com isso, voc obter o nmero percentual de mortalidade no ano, para cada faixa de idade. Faa isso tambm com o total de seu rebanho criado no espao de 12 meses. A mdia de mortalidade geral nos rebanhos brasileiros de 6,0% e nas categorias A) 8,5%; B) 3,5%; C) 2,5%; D) 1%; E) 3,5%. Pases com pecuria de corte mais desenvolvidos (EUA e Austrlia), tm uma mortalidade mdia geral de 3,2% e nas categorias A) 4,5 % a 5,0%; B) 1,3%; C) 1,0%; D) 1,1 e E) 2,0%. Com seus dados calculados, anlise com seu veterinrio os gargalos sanitrios que levaram a morte os animais, nas diversas categorias, e trabalhem em conjunto para mudar o manejo sanitrio da fazenda, a fim de atingir metas mais prximas dos pases desenvolvidos. Boa sorte na empreitada!

Surtos e focos de doenas 382d4h

Surto de brnquio-pneumonia flagela boitel em SP 21w28

A brnquio-pneumonia a principal doena nos confinamentos brasileiros e pelo mundo afora. Isto voc est careca de saber! Porm, na grande maioria dos casos acomete entre 5,0% a 20,0% dos confinados, e mata no mais de 5,0% dos doentes. Mas, quando a conta explode e ultraa os 50,0% de um lote, acompanhado de alta mortalidade o sinal vermelho piscante e sonoro agita a todos.

Esse grande surto aconteceu num boitel paulista, cujo gerente na hora que percebeu o tamanho da encrenca, chamou em carter de urgncia um veterinrio ligado Empresa. O confinamento recebeu do sul de Gois 80 bois da raa Nelore e Brahman, um tanto magros (condio corporal 2,0/2,5 de no mximo 5), com pesos variando entre 380 kg a 400 kg. Segundo apurou o profissional, os animais tiveram um deslocamento longo (48 horas) do local at o centro de engorda, viajando parte do trajeto em estrada de terra.

Aps chegarem ao centro de engorda, as rezes foram vacinadas contra clostridioses, vermifugadas e brincadas, indo direto para o confinamento, onde receberam a dieta padro (milho modo, bagao de cana, farelo de soja, e ncleo mineral + aditivos) com aumento gradual de alimentos energticos durante os 14 dias de adaptao. Nos 3 e 4 dias de cocho ocorreu uma virada trmica com chegada de uma frente fria, que baixou a temperatura ambiente mnima para 8 C, acompanhada de garoa e ventos frios.

A partir do 7 dia de cocho, os “leitores de sade” comearam a detectar diariamente o surgimento anormalidades em vrios animais, que apresentaram os seguintes sintomas: isolamento do lote, menor ida ao cocho, dificuldade para respirar, e vrios deles apresentavam tosse e corrimento nasal translcido (secreo serosa). Nos dias seguintes, os casos se avolumaram e atingiram 55,0% do lote (44/80), ocorrendo morte de 13 deles (mortalidade 16,3%; letalidade 29,5%). Os animais com sintomas foram tratados aleatoriamente com um antibitico, avaliado como inapropriado.

O veterinrio detectou as seguintes alteraes no exame fsico dos doentes: sndrome febre (40 a 40,5 C); marcada dispneia (dificuldade respiratria); pescoo esticado, narinas bem dilatadas e pernas dianteiras bem abertas (posio ortopnica); na auscultao pulmonar ficou evidente, bilateralmente, a respirao rude, silencio respiratrio na regio antero-ventral, estertores secos (chiados e crepitao) nas partes dorsais e posteriores dos pulmes. Na necrpsia detectaram-se reas de consolidao nas reas antero-ventrais dos pulmes, de colorao vermelha-enegrecida, ao qual ao corte apresentava hiperplasia de septos interlobulares, presena de secreo mucoide nos bronquolos, severo enfisema intersticial e certo grau de edema nos lobos caudais e dorsais. Foi observado um pequeno grau de inflamao nas pleuras visceral e parietal. No foram encontrados nos brnquios e bronquolos espcimes de vermes (Dictyoculus viviparus), que poderiam provocar enfisema pulmonar.

Baseado nas condies que geraram alto estresse, nas mudanas meteorolgicas, no surgimento de grande quantidade de casos (alta morbidade), alta transmissibilidade da doena, e nos achados clnicos e de necrpsia, o veterinrio suspeitou de infeo inicial por vrus sincicial respiratrio (VSR), seguido por infeco secundria por agentes oportunistas (Mannheimia haemolytica, Haemophilus somnus etc.). O profissional recomendou aumento de uma para trs inspees dirias dos “leitores de sade” no lote, e que os animais com suspeita de doena fossem imediatamente retirados e isolados do piquete. Alm disso, preconizou a imunizao de todos os animais ainda sem sintomas, e dos lotes que estavam em piquetes prximos, com vacina intranasal que contm vrus VSR vivo atenuado, e tratamento dos animais doentes com antibitico apropriado, com essas medidas poucos casos novos surgiram a partir da, estancando de vez o surto.

Vrias condies provavelmente facilitaram esse surto de brnquio-pneumonia acima do esperado. Segundo se apurou posteriormente, estes animais nunca tinham sido vacinados contra problemas respiratrios. A longa e desgastante viagem certamente gerou estrese e aumentou a liberao de cortisol, que diminui a eficcia da principal clula de defesa dos pulmes (macrfagos alveolares), facilitando a penetrao de agentes infecciosos, alm de interferir na produo de anticorpos. Um estudo que realizamos num confinamento paulista identificou, que comparado com animais que no viajaram, que deslocamentos acima de 800 km aumentam o risco de brnquio-pneumonias em 3,8 vezes. Nesse mesmo estudo, constatamos que gado zebuno tm 1,84 vezes maior risco de terem a doena, provavelmente por serem mais estressados que os taurinos, produzindo mais cortisol que estes ltimos.

O alto grau de transmissibilidade da doena dentro do lote e as leses nas regies caudo-dorsais dos pulmes, reforam a possibilidade do quadro inicial ser causado pelo vrus sincicial respiratrio, surgindo posteriormente outros agentes bacterianos, visto que o primeiro agente facilita muito a penetrao de bactrias oportunistas. Tudo sugere que esse lote nunca tinha entrado em contato com esse vrus, visto que a doena mais intensa e mais rapidamente transmitida entre confinados nesta condio. O vrus pode ter sido contrado de algum animal do prprio lote ou de outros bovinos engordados de forma contgua. A literatura sugere que a principal fonte de transmisso da enfermidade feita pelas gotculas nasais contaminadas com o vrus podem ser espalhadas pela tosse.

A queda na temperatura ambiente, ventos e garoa fria tambm deve ter favorecido o quadro, pois embora este vrus tambm ataca no perodo quente do ano, ele mais caraterizado por se difundir nos perodos mais frios. Mesmo assim, constatamos em vrios surtos em SP, que a baixa temperatura por si s parece ser um fator desencadeador de brnquio-pneumonia, quanto a temperatura mnima inferior a 5 C a 6 C, numa virada de tempo em que no dia anterior a mxima atingiu 30 C ou mais, seguido de chuva e ventos frios.

Figura 1.
Posio ortopneica; dificuldade respiratria.

Fonte: Banco de imagens do autor

Figura 2.
Pulmes: lobos craniais avermelhados-enegrecidos e lobos posteriores inchados.

Fonte: Banco de imagens do autor

Figura 3.
Lobos caudais edemaciados e enfisematosos.

Fonte: Banco de imagens do autor.

Figura 4.
Foto ilustrativa da tosse espalhando gotculas.

Fonte: MSD

Surto de dermatofilose em rebanho do MS 6g4o

O veterinrio de campo, associado ao professor de clnica de ruminantes de uma universidade paulista, descreveram um surto de dermatofilose em um rebanho de cria e recria de gado Nelore, do estado do Mato Grosso do Sul. Segundo o relato, foram acometidos cerca de 40 bovinos, vrios deles mamando e boa parte deles desmamados. Os casos surgiram depois de uma prolongada seca na regio, em que as pastagens estavam em condies ruins, seguida de intensas chuvas, em especial na primeira quinzena do ms de outubro, superando os 150 mm no ms.

Os animais apresentaram graves leses na pele da cabea, orelhas, pescoo, costado, traseira e cauda (figura 5). Essas leses aram cronologicamente por trs estgios distintos: 1) inicialmente a aderncia dos pelos, que ficavam emaranhados; 2) seguido de formao de crostas enegrecidas; 3) terminando com expanso em tamanho e altura (atingindo entre 0,5 e 2 cm) das crostas, tornando-se de alguma forma semelhantes a uma verruga. Nesse ltimo estgio as crostas facilmente caam e expunham a presena de lceras rosadas com secreo amarelada. No precisa dizer que a perda der peso foi notria, predispondo alguns animais a desenvolverem inclusive quadros de brnquio-pneumonia.

O tratamento foi inicialmente feito na prpria fazenda, sem orientao tcnica, com aplicao de um antibitico com baixa eficcia contra a doena e lavagem dos animais com soluo a base de sulfato de cobre, bastante contraindicado. O diagnstico, feito pelos profissionais citados, se baseou nos aspectos clnicos da doena e no raspado de pele, que detectou pela presena da bactria gram-positiva Dermatophilus congolensis, que se apresenta aps corado uma forma de “trilho de trem” (figura 8). Os veterinrios indicaram o tratamento dos doentes com um antibitico apropriado e a melhora na nutrio mineral, em especial com maiores ofertas de zinco e fontes de nitrognio, obtendo rpida cura nos casos mais leves e melhora gradual nos mais afetados.

Essa doena relativamente comum em vrias regies subtropicais e tropicais do mundo, durante o perodo chuvoso e quente do ano, chamada popularmente em algumas regies brasileiras como “mal das chuvas”. A pele normal evita a entrada das bactrias, principalmente pelo “sebo” produzido pelas glndulas cutneas, mas o excesso de chuvas retira essa proteo, facilitando a entrada dos agentes. Pastagens sujas com presena de espinho facilitam tambm a penetrao das bactrias. Dizem que a infestao por carrapatos poderia inocular a bactria na pele, mas pessoalmente no acredito nessa possibilidade. Boa parte dos surtos que atendi, a doena estava ligada a m condio nutricional do gado, principalmente em gado que ficou em pastagens “rapadas”, durante o perodo seco do ano, sem ter recebido suplementao extra com fontes de protena, como parece ter acontecido nesse surto em particular.

Ela mais comum em bovinos jovens, mas tambm pode acometer os mais erados. Os zebunos so mais acometidos que outras raas taurinas. Por aqui, boa parte dos surtos so em gado Nelore. Um pesquisador francs constatou a alta frequncia da doena em certas linhagens de gado Brahma, na chuvosa ilha caribenha de Martinica, constatou que elas carregavam um gene que favorecia a instalao da enfermidade. Com a simples substituio dos reprodutores que no tinham o determinado gene, fez com a doena diminusse de 70,0% para 5,0%. Falta um trabalho nacional para estudar a presena desse gene em de rebanhos de gado Nelore com a doena. Geneticistas e melhorista nacionais, ABCZ, mos-a-obra!

Figura 5.
Quadro inicial: aderncia de pelos.

Fonte: Banco de imagens do autor

Figura 6.
Quadro intermedirio: formao de crostas na pele.

Fonte: Banco de imagens do autor

Figura 7.
Quadro muito evoludo

Fonte: Banco de imagens do autor

Figura 8.
Imagem da bactria corada com aspectos de trilho de trem.

Fonte: Banco de imagens do autor

Polioencefalomalcea em garrotes 2b2k1w

Antes de mais nada, o estranho nome da doena significa necrose (degenerao) do segmento cinzento do crebro (plio =cinzento; malcea = amolecimento ou necrose; encfalo = crebro). O veterinrio de campo detectou cinco casos de polioencefalomalcea num lote de 130 bovinos de 8 a 12 meses de idade, com peso corporal entre 250 kg a 300 kg, numa propriedade no planalto catarinense. Os animais foram mantidos em pastagens naturais associadas ao azevm (Lolium multiflorum Lam.) e recebiam cerca de 3g/kg peso corporal de sal proteico-energtico. Dois dias antes do incio do quadro foi trocada a rao por outra marca comercial, mas a quantidade oferecida se manteve a mesma. Segundo o relato do proprietrio, o primeiro garrote a apresentar a doena teve dificuldade para andar parecendo estar cego, cambaleou e caiu em um aude, sucumbindo a seguir. Um segundo desmamado, apresentou os mesmos sintomas e foi tratado contra tristeza parasitria, itindo que o quadro fosse de babesiose nervosa (Babesia bovis), mas independente do tratamento, o animal morreu. Alguns dias aps, outras trs rezes da mesma categoria animal, apresentaram idntico quadro, sendo chamado imediatamente o profissional.

Constatou-se que todos os animais apresentavam boa condio corporal. Dois garrotes estavam andando descoordenados, cambaleantes e em forma de crculos. Um exame mais detalhado constatou que ambos estavam cegos. O terceiro animal j apresentava o quadro mais evoludo, se encontrava deitado e apoiado na quilha, j com quadro depressivo e com contrao dos msculos do pescoo, fazendo com que a cabea ficasse voltada para cima, em posio de mirar estrelas (opisttono); o ranger dentes era muito evidente, apresentava alguma salivao (sialorreia) e tremor muscular. O profissional constatou tambm que o novo sal proteico-energtico continha altos teores de enxofre (26 g de sulfato/ kg de produto), sendo que segundo a tabela de nutrio (NRC, 2016), garrotes com cerca de 294 kg podem receber no mximo 30 g de sulfato/dia. Frente ao quadro clnico e a quantidade de sulfato na rao, a suspeita do profissional foi de polioencefalomalcea, sendo que os doentes foram medicados com altas doses de tiamina (vitamina B1), associado ao uso de corticosteroide. Dois dos trs bovinos reagiram muito bem e se recuperaram, mas o animal com quadro evoludo piorou, apresentando cegueira de origem central (amaurose) e ficou completamente sem comer, sendo realizado a eutansia do mesmo.

Para evitar o surgimento de novos casos, foi suspenso o uso do novo sal proteico-energtico e nos animais que mostraram algum grau de apatia, foi aplicado, por via intramuscular, uma dose de vitamina B1, no surgindo mais casos da doena.

A polioencefalomalcea decorrente de leso cerebral por carncia de tiamina, excesso que substncias que destroem essa vitamina no tubo gastrintestinal ou por excesso de sulfato (enxofre) na rao. A tiamina protege os neurnios da rea cinzenta do crebro, porm seus estoques so bem baixos no organismo. Nos ruminantes ela produzida adequadamente pelas bactrias do rmen. Em certas circunstncias, em especial aps quadro de acidose ruminal, h o crescimento de determinadas bactrias ruminais que produzem uma enzima (tiaminase) que destri a tiamina. O excesso de sulfato na dieta convertido no rmen em sulfeto de hidrognio (H2S), o qual absorvido para o sangue e da para o crebro, onde entre outras coisas destri a tiamina neste stio.

A polioencefalomalcea muito mais comum em bovinos desmamados que adultos, acometendo geralmente animais bem nutridos e que recebem raes concentradas ou alimentos e gua ricos em sulfato. Tm-se descrito no Brasil surtos aps mudana de rezes de reas de pastejo ruins, para pastagem verdejantes e luxuriantes. Os capins temperados, incluindo o azevm, contm maior quantidade de enxofre, na forma de sulfato, que as gramneas tropicais, entre elas as braquirias. Teoricamente, o uso exagerado de DDG (dried destilled grains) de milho para ruminantes jovens poderia facilitar o surgimento dessa doena, visto que muito rico em enxofre (at 0,60 % S da matria seca), porm, maiores estudos so necessrios para comprovar isto. esperar para ver!

Figura 9.
Sequncia de fotos mostrando bovinos andando em crculo.


Fonte: Banco de imagens do autor

Figura 10.
Quadro evoludo: posio de mirar estrelas


Fonte: Banco de imagens do autor

Tosse seca em confinados gachos 2n6b25

O veterinrio ligado Empresa de Nutrio atendeu um confinamento de bovinos da raa Angus, no municpio de Derrubadas RS, em que cerca de 80,0% dos animais apresentavam uma tosse relativamente seca e com mnima secreo nasal translcida, com aspecto de clara de ovo, se acentuando logo depois da ingesto de alimento no cocho. Um exame (fsico) mais detalhado dos pulmes, aparentemente no detectou nenhuma alterao maior, descartando-se a possibilidade de ser brnquio-pneumonia. A rao era constituda por 58,0% de milho bem modo (fub), 14,0% de silagem de capim napier capia, 15,0% de farelo de arroz, 9,0% de farelo de soja, 3,0% de ncleo mineral-vitamnico e 1,0% de ureia. O tcnico tambm constatou que no era adicionado gua ou qualquer agregador (glicerina, melao etc.) na rao. O teste das peneiras (Pennsylvania State Separator), composto de trs peneiras com diferentes malhas e uma ltima caixa coletora, identificou que uma quantidade significativa da rao ava por todas as trs peneiras, indicando que o milho estava excessivamente triturado, seco e poeirento na caixa coletora. O veterinrio tambm observou que na hora que o vago distribua a rao, levantava alguma poeira no cocho

Frente aos sintomas dos animais e a composio da dieta, o tcnico suspeitou de tosse seca causada por oferecimento de rao poeirenta. Para a resoluo do problema ele sugeriu a adio de 8,0% a 10,0% de gua em relao ao peso bruto da rao, promovendo uma boa mistura, de no mnimo, cinco minutos. Realizou novamente o teste das peneiras da nova rao, que acabava de ser entregue no cocho, e verificou uma significativa diminuio na ltima peneira, indicando a agregao das partculas pequenas s maiores pela adio da gua. Com essas medidas, a tosse na grande maioria dos animais sumiu em poucos dias, ocorrendo concomitantemente a diminuio da secreo nasal. Tambm percebeu uma ligeira melhora no ganho de peso da boiada. Essa tosse seca j foi citada em outros confinamentos brasileiros. Um levantamento paulista, feito em 2024, com os maiores nutricionistas dos confinamentos nacionais, indicaram que 30,6% empregam milho modo fino na engorda.

O reflexo da tosse protege as vias areas (narinas, cornetos, faringe, laringe e traqueia) e os pulmes da aspirao de partculas irritantes, incluindo a poeira e de certos gases qumicos, e ajuda na eliminao de secrees acumuladas nestes locais. O reflexo se inicia por ativao do nervo vago eferente, quer seja pela presena de substncias irritantes ou de inflamao nas vias areas e nos pulmes. No presente caso, a poeira da rao provocou esse reflexo de tosse, que foi acompanhada por uma leve secreo nasal serosa.

Figura 11.
“Teste das peneiras”: dedo indicando a caixa coletora.

Fonte: Banco de imagens do autor

Figura 12.
Bovinos do confinamento

Fonte: Banco de imagens do autor.

Figura 13.
Animal tossindo

Fonte: Banco de imagens do autor.

Levantamento de cisticercose bovina no Paran 4x1d22

Segundo dados do ADAPAR (Agncia de Defesa Agropecuria do Paran), em levantamento de casos em frigorficos submetidos Inspeco Estadual, foram constatados casos de cisticercose bovina em animais abatidos em determinadas propriedades localizadas nos seguintes municpios: Ibipor (20 positivos/70 abatidos; 28,5%); Castro (8/37 25,8%) Carlpolis (7/35; 20,0%) Braganey (20/100; 20,0%) Janipolis (13/63; 20,0%; Ribeiro do Pinhal 28/147; 19,0%).

Esse levantamento feito nos frigorficos essencial para saber quais propriedades tm o problema, o qual deve ser acompanhado com um exame detalhado nas fazendas positivas para saber de onde se originou a infestao das rezes que culminou com a presena de cisticercos vivos ou calcificados na carcaa, com a devida eliminao das causas ou fontes de contaminao. A cisticercose penaliza duramente os pecuaristas que tm animais positivos, com a cobrana por parte dos frigorficos (at 60,0% do preo do pagamento por bovino), por realizarem o tratamento trmico da carcaa. Alm dessa penalizao, a cisticercose poder ser um futuro gargalo sanitrio a ser imposto pelos pases importadores de nossa carne, assim como aconteceu com a ndia que exportou carnes contaminadas com cisticercos para alguns pases, incluindo o Egito, sofrendo sanses na importao.

Infelizmente, apenas um estado (MS) faz este trabalho completo de levantamento nos frigorficos e tentativa de correo nas propriedades problemticas. ei pessoalmente, em 2022, o MAPA para propor um programa nacional de controle de cisticercose bovina, assim como existe no combate raiva, brucelose, tuberculose etc., a fim de orientar os estados a realizarem adequadamente este controle. No entanto, com a mudana de governo e da equipe do setor de Defesa Sanitria Animal do MAPA, foi sugerido apenas um grupo de trabalho sobre o tema, em que fao parte, e que no trouxe nenhum resultado prtico. A cisticercose um problema complexo e que toda cadeia pecuria, incluindo o MAPA, os frigorficos, as Associaes de Criadores e principalmente os servios estaduais de defesa sanitria animal, deve estar envolvido, para a minorao dessa zoonose. Toro por uma mudana para valer em futuro prximo! Aguardemos!

Surtos e focos de raiva bovina nos estados 5h3t2u

Como previsto nesse RADAR, aumentaram os focos de raiva nas reas alagadas recentemente no RS, em especial na regio do Vale do Rio dos Sinos e regio Centro-Sul do estado. Tambm continua com alta frequncia de casos as regies do Vale do Jaguari e das Misses, em que se acredita que foram invadidas por colnias de morcegos, contaminados com o vrus rbico, oriundos da fronteira com as bandas da Argentina. Os seguintes municpios gachos tiveram maior nmero de focos: Jaguari (6 focos); Alegrete, Caibat, Encruzilhada do Sul (5 focos); So Miguel das Misses (4 focos); So Vicente do Sul e Cacequi (3 focos).

Apresentaram tambm casos de raiva propriedades nos seguintes municpios dos estados: AC: Mncio Luna; PA: Muan, na Ilha do Maraj; PI: Campo Maior e Piripiri; RN: Tangar; GO: Varjo; SP: Iguape; PR: Catanduvas, Campo Bonito, Curitiba, Guaraniau e Lindoeste.

Foi um prazer t-lo como leitor!!