Scot Consultoria
scotconsultoria-br.noticiascatarinenses.com

Carta Gros - Milho: perspectivas do mercado no Brasil e no mundo 3h6g6l

por Equipe Scot Consultoria
17/12/2024 - 18:00

1. Uma anlise macro do mercado no mundo e no Brasil, para os prximos anos 6e1y2r

O mercado global de milho apresenta um cenrio promissor, impulsionado pela crescente demanda do gro pelo seu papel como alimento bsico e seu papel na produo de rao animal. Alm disso, o uso do milho como matria-prima na produo de etanol, sua aplicao nas indstrias de processamento de alimentos e sua utilidade no setor de insumos agrcolas tm aumentado a procura, o que refora uma perspectiva de mercado slida.

Por exemplo, a crescente preocupao dos consumidores em se alimentar de maneira saudvel e a busca por alimentos ricos em nutrientes, o movimento de preferncia por produtos com ingredientes naturais, sem conservantes e ingredientes artificiais, tem impulsionado a demanda por smola de milho, amplamente consumida como alimento matinal e utilizada em produtos assados devido sua textura e propriedades de ligao. A Amrica do Norte lidera o mercado, apoiada pelo grande setor de caf da manh nos Estados Unidos da Amrica. J a regio da sia-Pacfico deve emergir como o mercado de crescimento mais rpido, impulsionado pelo aumento da populao preocupada em cuidar melhor da sade, especialmente em pases como ndia e China.

O Brasil, deve registrar um aumento na demanda devido crescente busca global por biocombustveis, nos quais o milho uma matria-prima fundamental. A demanda interna, da mesma forma, deve fomentar-se, devido ao crescente nmero de usinas de etanol que utilizam o milho como matria prima. Alm disso, o aumento no consumo de produtos alimentcios base de milho tambm deve impulsionar o mercado.

No mbito da produo, a pujana do setor agrcola brasileiro, atravs de inovaes em biotecnologia e mtodos agrcolas mais eficientes prometem melhorar a produtividade das lavouras de milho, o que fortalece a posio do Brasil no mercado mundial, alm de aumentar a oferta, fazendo frente demanda. Entretanto, os efeitos adversos no clima resultantes das mudanas climticas vo gerar impactos temporrios em algumas reas produtoras, com quebra de safras esperadas de tempos em tempos, o que altera a dinmica do mercado. Cabe s instituies de pesquisas brasileiras e entidades privadas o desenvolvimento de variedades e mtodos de manejo para a superao desse problema, o que est em andamento.

2. Cotaes e exportaes

Aps um perodo de alta nas cotaes do milho no comeo do ano, a cotao caiu e manteve-se em relativa estabilidade at meados de setembro. Entre setembro e dezembro, as cotaes no mercado interno aram por oscilaes significativas, influenciadas por diversos fatores climticos e de oferta e demanda (figura 1). 

Figura 1.
Cotaes de milho de dezembro de 2023 a dezembro de2024 (at o dia 13).

Fonte: Scot Consultoria

No incio de outubro, os preos subiram, sugerindo uma retrao dos vendedores, que limitaram os negcios espera de valorizao, enquanto compradores buscavam recompor estoques em um cenrio de clima quente e seco no Centro-Oeste. Esse movimento elevou o preo mdio para R$66,63/saca na primeira quinzena do ms, uma das maiores cotaes desde o comeo do ano.

No ltimo dia de outubro (31), a cotao atingiu R$72,94 e acumulou alta de 13,0% no ms, impulsionado pela baixa disponibilidade no mercado fsico e pela cautela de vendedores. Apesar das preocupaes iniciais com o clima, a regularizao das chuvas favoreceu o avano da semeadura, que superou o ritmo do ano anterior.

No entanto, em meados de novembro, a tendncia de alta perdeu fora com o afastamento de compradores, influenciados por exportaes lentas e quedas nos contratos futuros. A produo na safra 2024/25 foi ajustada em 3,6% para cima, o que contribuiu para expectativas de maior oferta futura, segurando os preos.

Agora, em dezembro, os preos enfrentam presso de baixa, com os consumidores ainda retrados e os impactos climticos minimizados pelas condies favorveis semeadura e ao desenvolvimento da safra vero. Apesar disso, no incio do ms, a retrao de vendedores equilibrou parcialmente o mercado, resultando em liquidez limitada. O perodo tambm foi marcado pela cautela nas negociaes devido a questes fiscais, um comportamento tpico nessa poca do ano.

No ano que vem, as incertezas sobre a oferta no ciclo 2024/25 reforam a tendncia de alta, mesmo com a expectativa de maior produo. A rea semeada na primeira safra est menor, o que torna a produtividade um fator para manter os nveis de produo. Apesar da menor preocupao com a semeadura da segunda safra, o potencial produtivo da safra ainda est para ser anunciado. Sendo assim, num contexto de alta demanda e oferta incerta, as cotaes em 2025 devero ter poucas chances de cair, com exceo para eventos sazonais.

Pensando no prximo ano, a alta do dlar deve favorecer a exportao do gro. Observe na prxima figura as cotaes em US$. 

Figura 2.
Cotaes do milho em gro em dlares.

Fonte: Scot Consultoria, Ipea

De forma contrria ao que aconteceu com os preos em reais, os preos em dlares nunca atingiram as mximas do ano, fato que demonstra a valorizao da moeda norte-americana frente ao real. As exportaes tendem a ficarem aquecidas pois os comerciantes brasileiros recebem em dlar, mas honram seus gastos em real.

Antagonicamente, nesse ano de 2024, as exportaes brasileiras de milho tm sido relativamente baixas, com decrscimo de 28,7% quando comparado ao mesmo perodo de 2023 (tabela 1).

Tabela 1.
Exportaes brasileiras de milho em gros, de janeiro a novembro (em todos os anos).

Ano Toneladas exportadas var (ano anterior)
2024 35.484.992,86 -28,7%
2023 49.801.154,28 34,9%
2022 36.919.589,70 0,00%

Fonte: Secex / Elaborao: Scot Consultoria

A retrao da oferta pelos vendedores esperando preos melhores, como citado, um dos fatores que ajudam a explicar a reduo no volume exportado. Outro fator foi a oferta elevada nos Estados Unidos, o que fez o Brasil perder, ainda que por pouco e breves momentos, a competitividade no mercado internacional. Fechando a lista de fatores, o crescimento de usinas de etanol a base de milho aumentou o consumo e ofertou preos relativamente melhores do que nos portos, direcionando parte do milho que seria exportado para as usinas.

Pensando no ano que vem, o Brasil tem oportunidade de ampliar a participao no mercado de gros em alguns pases europeus, devido menor oferta exportvel da prpria Unio Europeia e dos pases da regio do Mar Negro, principalmente Romnia e a Ucrnia, este ltimo, tem a sua menor produo de milho desde a safra 2012/13.

No entanto, no um cenrio fcil. Neste ano, os Estados Unidos se tornaram um fornecedor muito competitivo, impulsionados por preos CIF (custo, seguro e frete includos no valor da compra) mais baixos nos portos da Europa e principalmente nos portos do mediterrneo, competitividade resultante da produo elevada nos EUA e demanda domstica no Brasil, conforme citado. Compradores espanhis, por exemplo, compraram, em 2024, 590 mil toneladas de milho norte-americano, um mercado que tradicionalmente era ocupado pelo Brasil ou pela Ucrnia.

3. Usinas de etanol de milho e estados produtores

Os principais estados produtores no Brasil so o Mato Grosso, seguido pelo Paran e por Gois (tabela 2)

Tabela 2.
Estados por produo de milho em gros.

UF Produo (mil t) Participao nacional (%)
MT 46.078,0 38,52%
PR 15.337,4 12,82%
GO 12.779,3 10,68%
MS 11.946,6 9,99%
MG 6.232,5 5,21%
RS 4.296,0 3,59%
SP 4.011,8 3,35%
BA 3.199,1 2,67%
MA 2.706,5 2,26%
TO 2.393,5 2,00%
SC 2.249,7 1,88%
PI 2.191,2 1,83%
PA 1.749,7 1,46%
RO 1.747,1 1,46%
SE 932,3 0,78%
CE 615,9 0,51%
DF 423,5 0,35%
PE 194,4 0,16%
AL 142,6 0,12%
AC 138,7 0,12%
PB 79,0 0,07%
ES 58,9 0,05%
RR 54,0 0,05%
RN 40,0 0,03%
AM 26,6 0,02%
RJ 6,8 0,01%
AP 2,2 0,00%
TOTAL 119.633,3

Fonte: Conab / Elaborao: Scot Consultoria

Observe no mapa do Brasil onde o milho produzido (figura 3).

Figura 3.
Lavouras de milho no Brasil.

Fonte: USDA / Elaborao: Scot Consultoria

A localizao geogrfica das lavouras de milho est intimamente relacionada a localizao geogrfica das usinas de etanol, observe a localizao dessas usinas (figura 4).

Figura 4.
Usinas de etanol no Brasil.

Fonte: Rafael Vieira / Elaborao: Scot Consultoria

Essa proximidade estratgica para reduzir os custos logsticos com transporte de matria-prima, que representam uma parcela significativa do custo de produo do etanol. Alm disso, estar prximo das reas de produo facilita o abastecimento constante das usinas. Dessa forma, agrega-se valor ao produto localmente antes do transporte.

Adam Smith, em 1776, no seu livro “A Riqueza das Naes”, j dizia que pases do centro da frica e do centro da sia eram os mais pobres. Mais de 200 anos depois, isso continua valendo. Smith argumentava que o transporte martimo muito mais eficiente e barato do que o terrestre e que o o ao mar facilitava o comrcio internacional, fomentando a economia.

Mesmo hoje, depois de tantas revolues tecnolgicas e avanos dos meios de transporte e infraestrutura, as distncias ainda so uma barreira, e ainda possuem um impacto no custo e no o aos mercados. Quanto mais a economia se torna globalizada, cada vez mais se depende de uma cadeia de valor de produtos e suprimentos que vem de cada parte do mundo, e, dessa forma, os transportes e a logstica so essenciais para o desenvolvimento da economia.

Qual a relao disso com o milho? A relao que Mato Grosso est no corao do Brasil, longe dos portos martimos do Atlntico, como Santos (SP) e dos portos no Norte, como Miritituba, que se conecta ao porto de Barcarena (PA) via o Corredor Logstico Norte. O transporte de milho at esses portos depende majoritariamente de rodovias, que possuem custos elevados longa distncia e infraestrutura rodoviria deficiente. O elevado custo logstico “reduz” a competitividade do milho mato-grossense no mercado internacional.

O que impressiona que, mesmo com o fator logstico jogando contra, o Mato Grosso continua sendo o maior produtor de milho do Brasil, devido sua alta produtividade. Em contraste com a pfia economia brasileira, que possui em seu cerne economistas heterodoxos, a economia agrcola do Brasil realmente de tirar o flego, sobrevive e triunfa mesmo sob a mira destes malfeitores.