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Carta Conjuntura - A revoluo do funding agro 62g15

por Equipe Scot Consultoria
18/12/2024 - 06:00

Em evento no dia 11/12, Ivan Wedekin e Suelen Farias realizaram uma srie de rodadas de perguntas aos seguintes convidados: 4i3q3q

Fernando Pimentel, engenheiro agrnomo e bacharel em direito. diretor da Agrometrika, empresa de solues para gesto de crdito rural.

Victoria de S, advogada pela Universidade de So Paulo. scia fundadora da Vert Securitizadora.

Roberto “Bob” Machado, . Ex-diretor do Banco do Brasil e idealizador da R.

Abaixo algumas das perguntas realizadas pelos apresentadores aos convidados.

Ivan Wedekin perguntou a Fernando Pimentel: Fernando, como voc v a utilizao da R nas operaes de barter, algo que no existe nos EUA?

Pimentel respondeu: Vamos entender o antes para entender como era depois. Tiveram vrias tentativas de buscar ttulos representativos de lastro de gros, mas o mercado sempre foi contra, pois as tradings no gostavam da ideia de ter outros participantes nesse mercado.

O barter j tinha comeado em 1988, sendo feito em contratos de compra e venda. No entanto, existia uma insegurana jurdica enorme, e na hora de ajuizar havia a dificuldade de entendimento do juiz. Era um desafio muito grande, e houve muita resistncia das tradings em no ter outros participantes no segmento. Quando veio a R, as operaes foram democratizadas, o Banco do Brasil trabalhou com uma legislao prpria padronizando um ttulo de produo agrcola. Comeou a trazer o barter para fora do ambiente das tradings, e grandes empresas como Monsanto e Bayer comearam a operar, percolando em toda a cadeia de financiamento do agro. Mais financiadores participavam e mais tradings tambm participavam.

Qual o motivo de no existir barter nos EUA? O barter um produto nacional. Se voc for ver nos EUA, Canad e Espanha, eles possuem algo que estamos lutando h anos no Brasil que o seguro rural. Hoje somente 10,0% da rea agrcola do Brasil possui aplice de seguro e 90,0% seguem no risco climtico, e o sistema financeiro no gosta desse risco no gerencivel. Enquanto isso, EUA, Canad e Espanha possuem 90,0% das reas agrcolas com aplice de seguro. No Brasil, o barter deu certo pois inclui travas cambiais, hedge Chicago e custo do frete, riscos que o produtor a a no ter mais. O produtor s se preocupa em produzir.

Suelen perguntou a Victoria: Gostaria que voc relacione a evoluo da agropecuria no cerrado a partir da R.

Victoria respondeu: Acredito que um dos principais papeis nesse quesito seja a participao da Embrapa. A prpria Embrapa e a forma de produo que temos hoje tm que ser valorizados.

O papel da R trazer liquidez para algo que no to lquido, e a R permitiu outros entes a entrarem no meio agrcola. Quando olhamos o histrico de produo hoje, vemos a R financeira como um super propulsor do financiamento do agro no cerrado.

Suelen perguntou a Fernando: Com o aumento das recuperaes judiciais, como voc v a situao do alto risco de crdito hoje para o produtor rural e o impacto do financiamento agropecurio brasileiro?

Fernando respondeu: Tivemos uma lei de 2023 que tinha com intuito subir o patamar da R, ampliando das quatro garantias issveis, praticamente voc poder operar qualquer garantia aceita dentro do ordenamento do direito civil. Depois tivemos a oportunidade de colocar fora das recuperaes como um patrimnio apartado. Isso est sendo complicado em primeiras instncias pois alguns juzes entendem que h um critrio de essencialidade e incluindo as cdulas dentro dos ativos de recuperao judicial. O objetivo do legislador foi aumentar a utilizao da cdula como lastro para operao de crditos e para favorecer o nvel de credibilidade dentro do mercado de capitais, pois sabemos que no final do dia a cdula vai ser lastro para operaes maiores, como os fiagros.

O mercado de capitais vive em cima de credibilidade, a insegurana jurdica no pode existir. Precisamos do mercado de capitais, a cdula, ela serviu de base para que o crdito comercial prosperasse. O plano safra, no final do dia, um volume muito pouco. O recurso livre, na real, uma opo do banco conceder, no est nem no oramento.

Quando o poltico fala de plano agrcola de R$500 bilhes, tudo uma balela! O dinheiro que financia o agro brasileiro o dinheiro privado! Ns temos o barter, temos vendas a prazo feitas por cooperativas agrcola, comercializadores de insumos, multiplicadores de sementes, sendo que grande parte disso financiado atravs de R. No entanto, tudo isso pode ser colocado em risco pela insegurana jurdica, quando os juzes no interpretam direito a lei. O agronegcio brasileiro depende da proteo da cdula de produo rural.

Suelen perguntou a Bob Machado: A gente sabe que o produtor uma pessoa muito tradicional, muito p atrs e que no gosta de se demonstrar muito para o mercado, so pessoas mais retidas. Hoje existe a B3 falando sobre o mercado de capitais para o agro, mas o produtor ainda est mais resistente com isso. Como voc enxerga a resistncia do produtor e uma maneira de quebrar essa resistncia?

Bob respondeu: Na realidade vemos que tudo contato com o produtor, o ttulo um contato com o produtor. Pequenos produtores ainda emitem R. Acredito que tudo divulgao e comunicao.

Suelen perguntou a Victoria: O agronegcio representa cerca de 25,0% do PIB brasileiro e somente 3,0 a 4,0% do mercado de capitais. Comente sobre a importncia dos fiagros e a recente queda dos preos.

Victoria respondeu: Os fiagros tiveram muita entrada de capital e quando vemos esse volume de bilhes temos que lembrar que os fiagros so de 2021. A regulamentao especfica do fiagro existe h um ms. Eu acho isso natural, voc teve muito aporte, desbalanceamento de taxas, se deu uma expectativa de retorno muito grande para o investidor, maior do que as taxas que se pratica no agro. Os fiagros tiveram tombos, mas quando olhamos para a cena total est longe de ser desastrosa. Samos de anos muito bons na agricultura. Guerras, dlar, taxa de juros, quebras de safras, ou seja, um cenrio mais bagunado que tambm afeta. Acho que o mercado de capitais est entendendo que so ciclos e precisamos entender que o agro so ciclos, difcil o agro deixar de pagar, mas ele pode atrasar no pagamento.

Ivan Wedekin perguntou a Fernando: O COPOM est reunido hoje (11/12), vai subir a taxa de juros da economia. Temos esse vespeiro da recuperao judicial (RJ) que acaba criando uma poeira na estrada da agricultura brasileira. Os preos caram e o dlar est salvando, isso uma crise conjuntural de parte da agricultura brasileira que vai ser superada brevemente ou isso pode ser uma crise que pode impactar o crescimento da agropecuria brasileira, olhando o produtor rural?

Fernando responde: Ns temos vrios elementos que se voc observar de forma conjunta soa como uma tempestade perfeita, vamos dizer assim. Estamos entrando em um perodo de baixas margens, indstrias qumicas, principalmente chinesas, entrando com margens agressivas, algo muito parecido com o mercado automobilstico. Voc tem ao mesmo tempo problemas, como a guerra russo-ucraniana que criou uma anomalia no mercado de fertilizantes, depois tivemos queda no preos dos gros, prejudicou o fluxo de caixa dos produtores de milho e algodo. Temos essa leitura de taxas de juros altas, que uma pancada a expectativa de alta de juros. O mercado agrcola capital intensivo, usa capital por um perodo longo, o produtor de caf capta recursos para 18 meses e o produto de soja para 12 meses. Se voc j tem margens reduzidas e um juros de capital desse tamanho, voc tem uma conjuntura complicada. Eu no acredito que as taxas de juros voltem aos patamares de 3 anos atrs nos prximos 2 anos, pois o atual governo no tem uma conjuntura fiscal boa.

A RJ um elemento que exige alguns ajustes, alguns critrios de eligibilidade do RJ devem ser revisados. O tem que recuperar a empresa, e para recuperar em um segmento como agro, exige um conhecimento extremamente multidisciplinar, relativamente complexo para poder fazer o turnaround em uma fazenda ou em uma produtora de insumos, por exemplo.

Ivan Wedekin diz a ltima mensagem do evento: O fiagro um crdito mais pulverizado, com investidores do mercado. Com a resoluo recente da comisso de valores imobilirios normatizando os fiagros, isso pavimenta fortemente a expanso e a pulverizao dos mercados de capitais, possibilitando at emisses menores do que o CRA. Outro aspecto sobre a questo cclica dos negcios agrcolas, do freio de arrumao e do aperto de margens, tanto de produtores e da indstria, do maior nvel de concorrncia.

No vamos fazer duas bobagens, primeiro, no vamos tributar os ttulos do agronegcio. Acho que as chances disso ar no congresso nacional zero. O segundo ponto, a questo da insegurana, ns criamos uma indstria de ttulos muito simples e no podemos espalhar a insegurana jurdica para que possamos de fato ter o agronegcio cada vez mais relevante no mercado financeiro e de capitais.