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Carta Gros e Agricultura - Trigo no Brasil: expanso produtiva e desafios 4i57s

por Equipe Scot Consultoria
06/05/2025 - 11:00

O trigo a principal cultura cerealfera de inverno em escala global, ocupando a maior rea cultivada entre os cereais, frente do milho. Em 2024, a cultura registrou 222,4 milhes de hectares semeados mundialmente, com a produo alcanando 796,8 milhes de toneladas, leve alta frente aos 791,5 milhes de toneladas do ciclo anterior. 5x104i

Brasil avana no ranking mundial, mas ainda ocupa posio secundria. Saltou da 74 posio entre os maiores produtores em 1997 para a 17 em 2024, com uma safra de 7,8 milhes de toneladas – volume que representa apenas 1% da produo global. A evoluo, contudo, marcante: em 27 anos, a produo nacional cresceu 328%, saindo de 2,41 milhes de toneladas (1997) para 7,89 milhes (2024). O salto na produtividade foi ainda mais expressivo, com incremento de 394% no mesmo perodo.

Apesar do avano, o pas ainda no atende demanda interna. Em 1997, a produo nacional supria apenas 28,1% do consumo interno, cenrio que vem se transformando. Em 2024, a participao subiu para 65,2%, indicando uma trajetria de aproximao entre oferta e demanda. A autossuficincia, embora distante, torna-se um horizonte plausvel, refletindo ganhos tcnicos e expanso estratgica.

Figura 1.
Evoluo do consumo interno em comparao com a produo nacional de trigo no Brasil (ltimos 27 Anos).

Fonte: USDA / Elaborao: Scot Consultoria

A importao o pilar estratgico para suprimento interno, com a Argentina sendo a protagonista histrica. Nos ltimos 27 anos os argentinos responderam por 77% do trigo importado pelo Brasil, consolidando um fluxo comercial bilateral crtico. Em 2024, 4,5 milhes de toneladas foram importadas da Argentina equivalente a 57,7% da produo nacional (7,8 milhes de toneladas).

No ltimo ano, o volume total importado foi de 7 milhes de toneladas (equivalente a 89,7% da produo domstica), com desembolso de US$1,8 bilho. O dado refora a dependncia externa estrutural, ainda que atenuada pelo crescimento produtivo interno nas ltimas dcadas.

Figura 2.
Principais pases dos quais o Brasil importa trigo.

Fonte: USDA / Elaborao: Scot Consultoria

Exportaes ganham trao, mas em patamar moderado, a partir de 2014, o Brasil ou a figurar como exportador ocasional, cujo movimento que se estabilizou nos ltimos trs anos. Em 2024, 2,84 milhes de toneladas foram exportadas (35,8% da produo nacional), gerando receita de US$ 612,9 milhes. O cenrio reflete um ponto de equilbrio frgil: enquanto as vendas externas avanam, o pas ainda depende fortemente de compras no mercado internacional para fechar a conta do consumo.

Figura 3.
Relao entre produo, exportao e importao de trigo no Brasil.

Fonte: USDA / Elaborao: Scot Consultoria

Concentrao produtiva e desafios qualitativos definem a cadeia do trigo brasileiro. A Regio Sul responde por 84,6% da produo nacional, sendo o principal polo estratgico do setor.

O trigo brasileiro enfrenta entraves em relao qualidade e carncia de variedades adaptadas s condies locais. Como consequncia, grande parte da produo classificada como de baixo padro tcnico, destinando-se, prioritariamente, nutrio animal e a aplicaes industriais no alimentcias.

Esse quadro explica a desvalorizao nas exportaes. Enquanto o Brasil importa trigo argentino de padro superior (utilizado em farinhas e panificao), o produto nacional exportado em 2024 teve cotao mdia 15,4% menor que o pago nas importaes do pas vizinho. A disparidade evidencia a assimetria qualitativa que permeia o mercado: gros argentinos atendem demandas de alto valor, enquanto os brasileiros ocupam nichos menos rentveis.

Dependncia geogrfica amplifica riscos. A concentrao produtiva no Sul, regio vulnervel a intempries e a predominncia de gros com baixa competitividade internacional limitam a transformao de ganhos de produtividade em vantagem comercial. Para reverter a equao, investimentos em melhoramento gentico (BRS 264), adoo de manejo tecnificado e expanso para novas fronteiras agrcolas (como o Cerrado) destacam-se como caminhos estratgicos.