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No h mistrio nas exportaes 1l6h1k

por Fabio Lucheta Isaac
06/01/2006 - 11:48
O Brasil conseguiu um espetacular resultado no seu saldo comercial, graas a um volume exportado de US$118 bilhes em 2005. A questo que tem intrigado muita gente que o dlar caiu ao longo do ano. Pela viso mais simplista, taxa de cmbio valorizada faz as exportaes carem – por tornar os produtos brasileiros mais caros no exterior – e desvalorizada faz com que elas subam. Ora, se o cmbio valorizou-se, porque as exportaes subiram tanto? Ter a taxa de cmbio perdido a importncia para definir as vendas para o exterior? Ter a economia sofrido uma revoluo no ano ado, tornando a teoria econmica uma relquia do ado? A resposta no, claro que no. Um produto brasileiro ser competitivo no mercado internacional se o preo dele em dlares for igual ou menor que o praticado por seus concorrentes. E os produtores tero interesse em vend-los se os preos, em reais, cobrirem os custos incorridos em sua produo, tambm em reais. Essa equao, custos em reais e receitas em dlares, depende da taxa de cmbio mas, tambm, do comportamento dos preos em cada moeda. Vejamos um exemplo: vamos supor que o Brasil produza apenas um produto para exportao e digamos que seja acar. Vamos supor que os produtores tenham um bom lucro quando eles vendem as sacas a R$ 30,00 no exterior. Se a taxa de cmbio for de R$3,00, isso implica que o preo internacional deve ser de US$10,00 a saca, para que os produtores brasileiros vendam sua produo no exterior. Se essa relao se mantm inalterada, as exportaes podem subir ao longo do tempo. Mas se o preo internacional do produto cair para US$8,00, a receita obtida pela venda seria de R$24,00. Essa queda do preo internacional poderia tornar a produo invivel e, portanto, faria com que as exportaes cassem. Uma forma de compensar essa queda de preos seria a DESVALORIZAO da taxa cmbio at o ponto em que o produtor continuasse recebendo seus R$30,00. A nova taxa de cmbio seria de R$3,75, com uma desvalorizao de 25%, valor aproximado da desvalorizao do preo do acar no mercado internacional. O pas manteria seu saldo comercial, mas com uma taxa de cmbio mais desvalorizada e, talvez, com uma inflao maior. Esse tipo de ajuste acorreu muitas vezes no Brasil. So exemplos histricos as dcadas de trinta e de oitenta. Mas pode ocorrer o contrrio: o preo do acar pode subir no mercado internacional. Digamos que o preo suba de US$10,00 para US$15,00. A receita das vendas dos produtores subiria dos R$30,00 para R$45,00. Ocorre que nesse nvel de receita a produo aumentaria muito e as exportaes subiriam. Se o Brasil praticar o cmbio flutuante, as vendas internacionais vo gerar um enorme fluxo de dlares e a taxa de cmbio pode se valorizar (a oferta ficaria maior que a demanda). At que ponto a taxa de cmbio poderia se valorizar sem prejudicar o volume de exportaes? At o ponto onde os produtores recebessem a receita de R$30,00 por tonelada, ou seja, at R$2,00. A taxa de cmbio sofreria uma forte apreciao, mas o saldo comercial no seria prejudicado. Esses eventos nos explicam que a taxa de cmbio real e no a nominal que define o valor do comrcio internacional. Ela resultado da relao entre preos internos, preos externos e a taxa de cmbio nominal. O que aconteceu com o Brasil – e no apenas com ele, mas diversos pases – em 2005, foi que os preos de seus produtos mais importantes no exterior subiram fortemente e ainda se mantm elevados. A valorizao da taxa de cmbio no foi suficiente para eliminar os efeitos dessa alta de preos sobre as receitas em reais da maior parte dos exportadores brasileiros. Se a taxa de cmbio ficasse com sua cotao de 2004, todo o ganho dos preos internacionais seria reado aos exportadores. Mas a apreciao da taxa de cmbio permitiu que esse ganho fosse dividido com diversos agentes. O mais provvel que os trabalhadores tenham se beneficiado com a valorizao (pelo aumento em dlares de sua renda), as empresas multinacionais que tm seus lucros medidos em dlares, bancos e outras instituies financeiras e importadores. Mas houve setores que perderam: todos os setores que vendem ao exterior produtos cujos preos no subiram no mercado internacional. Eles tiveram suas receitas em reais diminudas. Tambm perderam os produtores brasileiros que sofrem a concorrncia dos produtos importados, j que os estrangeiros podem vender seus produtos aqui mais baratos em reais, mantendo as receitas em dlares. O saldo comercial brasileiro teve como fonte principal o crescimento mundial, que permitiu que os preos internacionais subissem. A valorizao da taxa de cmbio apenas permitiu que os ganhos obtidos com o comrcio fossem redistribudos entre os vrios setores da economia brasileira. Acreditar que a economia brasileira est sendo comandada por novos paradigmas e que a boa teoria econmica ficou obsoleta desconsiderar os elementos mais bsicos dessa mesma teoria. Fonte: Global Invest Asset Management