Sem perspectivas concretas de aquecimento da demanda internacional, o etanol brasileiro continuar ancorado no mercado domstico em 2011. E, com as vendas recordes de carros flex no pas, analistas e empresas do segmento consideram que o consumo pode crescer, ainda que pouco, e que os preos mdios do combustvel tendem a subir 5%.
Em janeiro de 2010, a frota nacional de carros flex somava 9,6 milhes de unidades. No fim de dezembro, eram 12,5 milhes, segundo a Associao Nacional de Veculos Automotores (Anfavea). "A renda do consumidor tambm vem crescendo. Talvez tenhamos um ligeiro aumento nas vendas de etanol", afirma Alsio Mendes Vaz, vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustveis e Lubrificantes (Sindicom).
Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagncia, uma das principais comercializadoras de etanol do pas, e presidente da Associao Internacional de Comrcio de Etanol (IETHA), est entre os que preveem preo mdio anual do etanol hidratado (utilizado diretamente nos tanques dos veculos) 5% mais elevado - em boa medida porque a produo em si, na melhor das hipteses, dever no mximo repetir o patamar da safra anterior (2010/11).
A manuteno da produo, por sua vez, est atrelada previso de oferta limitada de cana no ciclo 2011/12, aps dois anos de menos investimentos agrcolas por parte das usinas e de uma prolongada estiagem no ano ado. Nesse contexto, avalia Plnio Nastari, da consultoria Datagro, acar e lcool tero de “brigar” por matria-prima, e o vis atual mais aucareiro.
Com preos internacionais em mximas de quase 30 anos, o acar tende a continuar liderando a preferncia das usinas brasileiras. “Em termos equivalentes a centavos por libra-peso, os preos do etanol variaram durante a safra [2010/11] entre 18 e 20 centavos, enquanto os do acar, entre 25 e 34 centavos”, compara Nastari.
Assim, o esforo em prol do adoante resultar em limites para o etanol. Em um cenrio otimista, a produo na regio Centro-Sul do pas empatar a da safra 2010/11, que foi de 26,3 bilhes de litros.
por isso que Rodrigues, da Bioagncia, acredita que os preos podero subir 5%. Na mdia da safra 2010/11 (entre abril e dezembro de 2010), o litro do hidratado ficou em R$0, 8695 no mercado de So Paulo (preo na usinas, sem impostos), segundo o Cepea/Esalq.
Para Luiz Pereira de Arajo Filho, diretor de sustentabilidade da ETH Bioenergia, brao do grupo Odebrecht, o mercado domstico ser o principal sustentculo para o biocombustvel no s em 2011, mas nos prximos dois a trs anos. No que alguns mercados especficos no exterior no tenham chances de se expandir - isso pode acontecer para o etanol industrial, pontua o executivo -, “mas o de combustvel possivelmente seguir com restries”.
Ainda que preveja preos mdios em 2011 similares aos de 2010, Pereira cr que a volatilidade ser menor entre as cotaes da safra e da entressafra, em funo da menor necessidade das usinas de fazerem caixa. Rodrigues concorda. Para ele, a diferena entre o maior e o menor preo do hidratado na safra no deve superar 10%, o que seria histrico.
Em 2010/11, a diferena entre o maior e o menor preo do hidratado na safra foi de 49,3%, conforme dados do Cepea (mdias mensais nominais). Apesar de alta, foi menor do que em 2009/10 (101,7%).
O horizonte delineado para os preos tambm reflete algumas mudanas no sistema de comercializao do etanol, explica Rodrigues. A comear pelo fortalecimento dos agentes de comercializao. Com essas empresas no mercado, devidamente registradas para a atividade, as usinas aram a ter outras opes importantes de venda alm das distribuidoras de combustveis.
A prpria concentrao do segmento, aprofundada pelo apetite de grandes multinacionais, altera a dinmica do mercado, lembra Rodrigues, j que muitas usinas esto se organizando em grupos para equilibrar as foras na venda do biocombustvel ao j concentrado mercado das distribuidoras.
Para ele, a criao do contrato de etanol com liquidao financeira na BM&F Bovespa tambm ajuda a elevar a liquidez do mercado. Com esse contrato disponvel, todos os agentes do mercado - usinas, distribuidoras, indstrias qumicas, postos de combustveis etc. - podem participar, pois no h necessidade de liquidao com entrega fsica de produto, como ocorria no contrato anterior. “Com esse instrumento, o mercado consegue visualizar l na frente os preos pagos pelo etanol, o que era impossvel prever at ento”.
Fonte: Valor Econmico. Por Fabiana Batista. 11 de janeiro de 2011.