Numa batalha tipo Davi e Golias, um pequeno grupo de produtores de algodo nos Estados Unidos est partindo para cima da gigante de commodities Cargill Inc., alegando que as prticas de negociaes da empresa j lhes custaram US$35 milhes e deixaram alguns cotonicultores perto da runa. 5k3i49
A Associao do Algodo Autauga Quality, a cooperativa dos produtores, entrou com pedido de arbitragem para tentar recuperar o dinheiro, alegando que a Cargill praticou "um sistema de comportamento imprudente que corresponde negligncia flagrante", segundo a queixa.
A briga, que est sendo arbitrada pela Bolsa de Algodo de Memphis, oferece um raro vislumbre do mercado de algodo, que dominado por uns poucos grandes nomes como Cargill, Louis Dreyfus Holding BV e Noble Group. Ela ilustra a dependncia que pequenos produtores tm em relao a essas empresas, que agem como intermedirios, encontrando compradores para o algodo.
Essas empresas tambm negociam nos mercados futuros em nome dos produtores, ajudando-os a se proteger contra variaes no preo do algodo. Fortes oscilaes de preo nos ltimos anos pam esse relacionamento prova. Ano ado, os futuros de algodo subiram 51% em pouco mais de dois meses, para um recorde de US$2,1515 a libra, ou pouco menos de meio quilo, em maro. Ento, caram cerca de 60% at o fim do ano.
A Autauga, sediada no estado de Alabama, alega que a Cargill deveria ter feito protees, ou hedges, nos mercados futuros em nome dos agricultores para ajud-los a obter bons preos pela produo. Em vez disso, afirma a Autauga, a Cargill fez os hedges a princpio, mas depois os removeu, deixando os cotonicultores expostos a quedas de preos.
A Cargill nega tais alegaes.
"Acreditamos que a alegao infundada e que vamos prevalecer nessa questo", disse o porta-voz da Cargill, Mark Klein, num e-mail. A empresa no quis comentar mais, citando confidencialidade do processo de arbitragem.
A Autauga, que tem 700 membros, vinha fazendo negcios com a Cargill e sua predecessora por 45 anos. Muito embora pequena, a cooperativa era a maior cliente de algodo da Cargill. Em fevereiro deste ano, depois de perdas, a cooperativa parou de fazer negcios com a Cargill, mostra o processo.
A Autauga alega no processo que em setembro de 2011 a Cargill removeu hedges sem sua permisso, deixando os produtores expostos a quedas repentinas de preo. Como resultado, os produtores receberam s 77 centavos por libra de seu algodo, em vez dos US$1,10 a US$1,20 que vinham esperando. No total, a discrepncia custou cerca de US$35 milhes para os produtores, alega a Autauga.
"O algodo da Autauga no estava mais protegido em preo nenhum e a Autauga e seus membros ficaram totalmente sujeitos a um mercado em queda", diz a queixa.
"Em vez de garantirem um lucro, eles fizeram uma aposta", disse Jay Minter, um produtor de algodo de Tyler, Alabama.
Produzir algodo naquele ano custou cerca de 85 centavos por libra, dizem os produtores, o que significa que muitos produtores ficaram no prejuzo.
A Autauga afirma que a Cargill tampouco agiu para corrigir a situao quando os preos do algodo continuaram a cair, como deveria fazer. Nos documentos da arbitragem, a Autauga alega que as aes da Cargill constituram "m conduta proposital ou, pelo menos, negligncia e/ou incompetncia flagrante."
A Autauga diz que a Cargill no alertou a cooperativa e ainda no lhe deu registros contbeis que documentem as operaes. A Cargill tem at amanh para responder Autauga. A bolsa de Memphis vai, ento, arbitrar, segundo pessoas a par do caso. Representantes da bolsa no quiseram comentar.
Entre documentos a que o The Wall Street Journal teve o esto cartas cada vez mais tensas entre a Autauga e a Cargill, conforme os agricultores tentavam descobrir por que de repente se viam presos a preos to baixos.
Numa carta de maio para o diretor de algodo da Cargill, Doug Christie, o presidente da Autauga, James Sanford, disse: "A Cargill ou [...] de um papel de mercado tradicional para uma mentalidade de Las Vegas de [...] pr o dinheiro dos outros em risco sem que estes saibam."
Numa outra carta para o diretor-presidente da Cargill, Gregory Pega, Sanford disse que as aes da Cargill "literalmente levaram [a cooperativa] e vrios de seus membros beira da runa".
Em resposta, Christie escreveu a Sanford em maio, dizendo que ele estava muito insatisfeito com a maneira como a cooperativa estava "descrevendo com equvoco os atos e motivos da Cargill". Christie no pde ser contatado para comentar.
A Cargill tambm argumentou nessas cartas que ela tinha remunerado a Autauga em excesso em 2010 e estava buscando compensao por isso. A Cargill tambm pediu compensao por perder os negcios da Autauga, segundo a correspondncia a que o WSJ teve o na documentao da arbitragem.
Os lucros da Cargill esto ligados aos de seus membros. No ficou claro se e quanto a Cargill pode ter perdido como resultado nas operaes com a Autauga. Perdas da Autauga coincidiram com um ano ruim para Cargill.
A Cargill, que de capital fechado, divulgou uma queda de 56% no lucro, para US$1,17 bilho, no ano fiscal encerrado em maio, citando perdas com negociaes de algodo.
Cerca de 200 produtores ficaram to descontentes com os preos que receberam que saram da Autauga, deixando a cooperativa com cerca de 500 membros, segundo agricultores envolvidos com a entidade.
O cotonicultor Dalton Fortenberry diz que foi um dos que saram. Ele diz que perdeu US$500.000 nos ltimos dois anos devido a preos baixos da Cargill.
Este ano, Fortenberry, de 65 anos, decidiu vender ele prprio seu algodo. "Provavelmente, posso fazer um trabalho melhor do que eles fizeram", diz ele.
Fonte: The Wall Street Journal. Por Carolyn Cui. 29 de outubro de 2012.