Ganhos recordes de 2013 no aliviam temores nos EUA 4m5x4y

Os agricultores americanos acabam de fechar as contas do melhor ano financeiro que j tiveram e mesmo assim se veem dominados pela ansiedade. A dupla ameaa representada pela queda dos preos dos gros e pelo recuo do governo americano em sua poltica para os biocombustveis vem resultando em alertas de que algumas operaes agrcolas podero ter problemas para atingir o ponto de equilbrio em 2014, em uma reviravolta amarga depois do ganho nominal recorde de US$131,0 bilhes obtidos em 2013. 1p5xk

Um enfraquecimento da economia agrcola afetar as vendas de fabricantes de equipamentos como John Deere e a AGCO, e tambm limitar a alta estonteante dos preos de algumas commodities. As cotaes menores da safra tambm podero forar Washington a pagar bilhes de dlares em subsdios, conforme delineado na lei agrcola em negociao no Congresso, mesmo que alguns apoios sejam cortados.

Uma grande fonte de preocupao o fato de os produtores terem obtido uma mdia de US$4,40 por bushel pelo milho colhido no quarto trimestre de 2013, 36,0% menos que em 2012, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). "O temor agora que haja uma queda considervel nos preos", diz Mark Recker, que cultiva milho e soja em 567,0 hectares no Estado de Iowa.

Os agricultores de Illinois, corao do cinturo do milho dos EUA, precisam obter US$4,31 por bushel em 2014 para conseguirem ter lucro, segundo a Universidade de Illinois. "So boas as possibilidades de os preos ficarem abaixo do ponto de equilbrio nos prximos anos", escreveu o professor Gary Schnitney.

Os agricultores americanos colheram o recorde de 355,0 milhes de toneladas de milho em 38,4 milhes de hectares em 2013. Os preos das terras em Estados como Illinois e Iowa subiram 77,0% nos ltimos quatro anos, mas economistas dizem que os preos menores dos gros vo desacelerar ou reverter a tendncia.

Outro fator que alimenta temores a proposta de corte na determinao dos EUA para uso do etanol, que vem sendo um pilar importante da demanda por milho nos ltimos cinco anos. Grupos lobistas de agricultores pressionam para que a Casa Branca reconsidere a proposta.

A Universidade Estadual de Iowa estima que os preos do milho cairo R$0,25 de dlar por bushel sob o mandato reduzido do etanol. O governador do Estado, Terry Branstad, esteve em Washington este ms e alertou que, se a proposta for aprovada, poder haver uma "crise agrcola" ao estilo da ocorrida na dcada de 1980, quando falncias e execues de hipotecas assolaram o Meio-Oeste americano.

"O momento no o melhor para esvaziar a demanda no mercado de milho", disse Matt Erickson, economista da American Farm Bureau Federation. A indstria do etanol vai consumir 35,0% da colheita domstica de 2013, segundo o USDA. O preo mdio do milho estava em US$2,00 por bushel antes da proposta de determinao da produo de etanol.

A possibilidade de uma queda nas cotaes dos gros acontece em um momento em que o Congresso se prepara para elaborar os detalhes finais do projeto da nova lei agrcola ("Farm Bill") do pas. Se aprovado, ele acabar com os "pagamentos diretos" - subsdios em dinheiro concedidos a agricultores, independentemente de eles estarem plantando.

Mas ele estabeleceria outro benefcio chamado "cobertura de perda de preo", em que os contribuintes compensam os agricultores quando os preos das safras ficam abaixo dos limites estabelecidos em lei. A cobertura comearia com cotaes abaixo de US$3,70 o bushel para o milho e de US$8,40 o bushel, no casos da soja, segundo uma verso do projeto de lei encaminhado pela Cmara.

"Com a queda dos preos de milho e soja, mais pessoas comeam a questionar a sensatez desse apoio elevado aos preos, pois parece que vai custar muito dinheiro", diz Bruce Babcock, professor de economia da Universidade Estadual de Iowa.

A cobertura de perda de preo poder empurrar a poltica agrcola dos EUA para a chamada "Caixa Amarela" prevista nas regras da Organizao Mundial do Comrcio (OMC), o que significa que a ferramenta seria considerada uma distoro comercial. "Isso um reacoplamento dos subsdios agrcolas s decises de produo", diz Craig Cox do Environmental Working Group, que se ope ao plano.

Como as receitas agrcolas aumentaram, o mesmo aconteceu com despesas como a locao de terras, fertilizantes, combustveis e sementes. Mitch Morehart, um economista do USDA, afirmo que cedo demais para estimar a renda do prximo ano, uma vez que os preos mais baixos podero levar agricultores a mudar para culturas que ofeream retornos melhores ou a deixar terras desocupadas.

Aps ajustada inflao, a renda agrcola lquida de 2013 ser a maior desde 1973. Dos US$131,0 bilhes, os pagamentos do governo respondero por US$11,4 bilhes dos rendimentos.

Fonte: Financial Times, de Nova York. Por Gregory Meyer. Traduzido por Mario Zamarin. 2 de janeiro de 2014.