Afinal, vale a pena ou não usar? r2nf

Amigos, sempre que converso com produtores sou questionado se realmente vale a pena usar os contratos futuros no dia a dia. Pergunta difícil, não?

Quero tentar trazer aqui dois casos (práticos e recentes) para exemplificar melhor:

Exemplo 1 (sem usar bolsa): estamos entrando na 2ª quinzena de abril e suponhamos que nosso amigo pecuarista já se prepara para matar um lote de boiada no final de maio (entressafra), cerca de 300 animais com peso médio de 20 arrobas cada. 

Faz então a famosa conta: “Bom, o preço ontem (14/4) fechou em R$325,20/@, isso me dá então um faturamento de R$1.951.200,00 (300 animais x 20@ x R$325,20/@), ok! Não está como eu queria (nunca vai estar), mas está bom!”.

ado 1 mês (14/5), ele olha as cotações do boi e já coça a cabeça: “Eita, hoje o boi fechou em R$309,19/@, agora a previsão do meu faturamento atualizado é de R$1.855.140,00. Essa diferença em um mês (- R$9.060,00) já dava para eu comprar quase 23 animais de reposição (boi magro)”.

Então, entra a famosa frase: “Ah, mas vai melhorar, não tem como os preços ficarem assim... vai subir com certeza”.

Exemplo 2 (usando bolsa): não vou ficar repetindo a história para não ficar chato, mas no mesmo dia (14/4) o nosso amigo pecuarista dá uma conferida na bolsa e vê que os preços neste dia fecharam em R$327,25/@ e já fala: “Uai, ‘bão’ demais... os preços estão melhores do que hoje... nessa brincadeira tem R$12.300,00 a mais”.

Depois no dia 17/4, ele dá mais uma conferida no final do dia... o físico fechou em R$328,75/@ e na bolsa fechou em R$321,40/@ e indaga: “Uai, o que será que está acontecendo ou está para acontecer? A diferença nos preços está negativa em R$7,35/@ (-R$44.100,00)”.

No dia 30/4, volta novamente no final do dia dar aquela conferida e... R$320,34/@ no físico e R$308,05/@ o contrato na bolsa. A diferença agora é negativa em R$12,29/@ e novamente indaga “O que será que aconteceu? Afinal o físico ‘não caiu tanto assim’”. 

E assim ele segue olhando dia a dia, olhando e fazendo esse acompanhamento:

Tabela 1
Comportamento dos preços no mercado futuro.

Fonte: B3 Elaborado: Raphael Galo

Sabe o que isso tem de sinônimo entre os dois exemplos? A mesma reação do personagem... por mais que no 2º exemplo ele acompanhe a bolsa, ele não usou essa ferramenta para se proteger contra a queda dos preços (mesmo o mercado avisando que estava em tendência de queda).

Eu poderia vir aqui em seguida e te dar o exemplo magnífico e perfeito de que o nosso amigo pecuarista travou os preços lá nos R$327,25/@ e agora não está nem ligando que os preços estão caindo, afinal, ele garantiria o preço travado e compraria mais reposição com o mesmo dinheiro.

Mas, prefiro ser realista e te trazer uma lição: não dá para saber qual é o momento exato de travar o melhor preço antes de cair, ninguém tem bola de cristal. Quem trabalha com isso, entende do assunto e já tem boa experiência, fica com o olho “mais treinado”, mais aguçado para olhar esse movimento, mas não vai acertar o olho da mosca todo mês.

Então, quero apenas lhe mostrar que o mercado deu vários sinais de que estava em tendência de queda e que era melhor se preparar para a queda, poderia ter travado no dia 15 ou 22, ou até no início de maio, que com certeza seria melhor do que hoje.

Finalizo hoje com uma reflexão sobre o assunto do grande Mário Quintana: “O verdadeiro analfabeto é aquele que sabe ler, mas não lê” (e nem estou falando de leitura).

Até a próxima. Forte abraço!