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Confinamento bovino: como o custo de aquisição impacta o lucro e a eficiência econômica 1r5e4f

por: Ivan Formigoni 1pl61

Segunda-feira, 19 de maio de 2025 - 15h33

Foto: Bela Magrela 66x5o


A terminação de bovinos de corte em confinamento continua sendo uma estratégia central para muitos pecuaristas brasileiros que buscam intensificar a produção e capturar margens em mercados cada vez mais desafiadores.

Nesse contexto, o custo de aquisição dos animais representa uma das variáveis mais sensíveis e determinantes para o sucesso econômico da operação.

Neste artigo, analisamos o impacto direto desse custo sobre a eficiência do sistema de confinamento, com base em três cenários distintos: atual, otimista e pessimista, nos quais apenas o valor pago pelo boi magro (R$/kg vivo) é alterado (tabela 1).

Tabela 1.
Custo sobre a eficiência do sistema de confinamento com base em três cenários distintos: atual, otimista e pessimista.

Parâmetros Canário atual Cenário otimista Cenário pessimista
Peso entrada - kg/cab 370,0 370,0 370,0
GMD - kg/dia 1,8 1,8 1,8
GMC - kg/dia 1,3 1,3 1,3
GMC período - @ 8,4 8,4 8,4
Dias confinados 100,0 100,0 100,0
Peso final - kg/cab 550,0 550,0 550,0
Rendimento de carcaça 56,6% 56,6% 56,6%
Arrobas totais 20,7 20,7 20,7
Receita média - R$/@ R$ 320,0 R$ 320,0 R$ 320,0
Custo médio aquisição - R$/kg R$ 10,4 R$ 9,4 R$ 11,4
Custo médio diária - R$/cab./dia R$ 18,0 R$ 18,0 R$ 18,0
Custo engorda - R$/@ R$ 214,7 R$ 214,7 R$ 241,7
Custo total - R$/@ R$ 272,6 R$ 254,1 R$ 291,2
Lucro bruto - R$/@ R$ 47,4 R$ 65,9 R$ 28,8
Retorno sobre capital - % (LB/CT) 17,4% 26,0% 9,9%
Margem bruta - % (LB/RT) 14,0% 20,6% 9,0%
Taxa interna de retorno - (TIR %am) 4,9% 7,3% 2,8%

Fonte: Brumatti. Elaboração: Farmnews

Nos três casos analisados, todos os demais parâmetros de desempenho zootécnico foram mantidos constantes: peso de entrada de 370kg, ganho médio diário (GMD) de 1,8kg/dia, rendimento de carcaça de 56,5% e o tempo de confinamento de 100 dias.

A variação ocorre exclusivamente no custo de aquisição, que vai de R$9,4/kg no cenário otimista a R$11,4/kg no pessimista - uma diferença de R$2,0/kg vivo.

No cenário atual, o custo médio de aquisição é de R$10,4/kg, resultando em um custo total por arroba de R$272,6 e um lucro bruto de R$47,4/@. A TIR anualizada é de 4,9%, com retorno sobre o capital de 17,4%. Esse cenário representa um ponto de equilíbrio que ainda permite margem positiva, mas alerta para a sensibilidade da rentabilidade frente as mudanças nos preços de compra.

Já no cenário otimista, a redução do custo de aquisição para R$9,4/kg gera um impacto imediato na performance econômica: o lucro bruto sobe para R$65,9/@, a TIR aumenta para 7,3% ao ano e o retorno sobre capital chega a 26,0%. Essa melhora reflete o potencial de ganhos mais elevados quando o confinador consegue comprar o boi magro em momentos de mercado mais favoráveis, seja por oportunidade de preço ou melhor negociação. A eficiência do sistema, nesse caso, é maximizada.

Por outro lado, o cenário pessimista, com um custo de aquisição elevado a R$11,4/kg, compromete significativamente os resultados. O lucro bruto por arroba recua para apenas R$28,8, e a TIR cai drasticamente para 2,8%, refletindo a redução da atratividade econômica da operação. O retorno sobre o capital investido também se retrai para 9,9%, o que pode não justificar o risco do investimento, principalmente em períodos de maior incerteza no mercado da arroba ou alta nos custos de insumos.

O que esses dados deixam claro é que o preço de aquisição dos animais é um dos principais fatores de risco na terminação em confinamento, e seu controle deve ser uma prioridade na tomada de decisão.

A diferença de R$2,0/kg no valor de compra gera uma variação de mais de R$37,0 por arroba no lucro bruto e impacta a TIR em mais de quatro pontos percentuais. Isso demonstra que a rentabilidade do confinamento pode ser amplamente comprometida mesmo quando o desempenho zootécnico permanece estável.

Diante desse cenário, o produtor precisa adotar estratégias de compra mais criteriosas, investindo em animais de genética superior, e considerando tanto o momento do mercado quanto a viabilidade de travamento de preços, parcerias comerciais e até mesmo recria própria. Além disso, é fundamental alinhar o custo de aquisição com a expectativa real de venda da arroba, utilizando simulações e ferramentas de gestão de risco.

Concluindo, a eficiência econômica da terminação em confinamento não depende apenas do ganho de peso ou da conversão alimentar, mas também - e sobretudo - da inteligência na compra dos animais. Um bom negócio começa na entrada, e saber comprar bem é tão importante quanto saber produzir.

*Texto elaborado por: Dr. Ricardo C. Brumatti que é professor na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - UFMS - Campo Grande. Mestre em Gestão Econômica de Gado de Corte, Análise de Mercado e Desenvolvimento de Ferramentas de Gestão.


Ivan Formigoni 1t6u1i

Zootecnista, doutor pela USP-FZEA e fundador da Farmnews.

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