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A febre aftosa é uma doença aguda altamente contagiosa, que causa sérios impactos na produção pecuária e impõe restrições ao comércio internacional de animais vivos e seus subprodutos. Trata-se de uma significativa barreira sanitária para o comércio de produtos de origem animal, tanto no mercado interno quanto externo. Além disso, as medidas adotadas para o controle da infecção, como o sacrifício sanitário de animais infectados, também geram danosas consequências econômicas.
As campanhas oficiais de vacinação contra a febre aftosa no Brasil tiveram início em 1960, e, juntamente com outras medidas sanitárias, contribuíram significativamente para o controle da doença. Esse progresso permitiu a implementação do Plano Estratégico do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA). E desde 2018, o Brasil já tinha a certificação como livre da doença com vacinação - um status sanitário concedido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).
Em 2 de maio, o Brasil alcançou um marco histórico ao ser reconhecido como país livre de febre aftosa sem vacinação. A conquista, após um longo período (figura 1), representa um avanço na pecuária nacional e fortalece a posição do país como um dos principais exportadores de carne bovina do mundo.
Figura 1.
Evolução do status sanitário do Brasil em relação à febre aftosa.
Fonte: MAPA / Elaborado pela Scot Consultoria
Do ponto de vista econômico, a interrupção da vacinação traz uma economia financeira. Segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária, o Brasil aplicava vacinas contra a febre aftosa em 244 milhões de bovinos e bubalinos, distribuídos por cerca de 3,2 milhões de propriedades rurais. Com a suspensão da imunização, estima-se uma economia superior a R$500 milhões por ano apenas com a compra e a aplicação das vacinas.
A retirada da vacinação contra febre aftosa também reduz os custos de produção e de logística sanitária no longo prazo, tornando a cadeia produtiva mais eficiente. Também há benefícios indiretos, como a valorização da imagem do Brasil como produtor responsável e comprometido com altos padrões sanitários, o que pode impulsionar outros setores do agronegócio.
Além disso, as principais vacinas contra a febre aftosa no mercado são inativadas e utilizam veículos oleosos que garantem liberação lenta e proteção prolongada, mas podem causar reações inflamatórias no local da aplicação. A aplicação subcutânea reduz danos musculares e perdas econômicas, embora favoreça o surgimento de nódulos pós-vacinais.
Além das exacerbadas reações locais, há implicações no rendimento das carcaças bovinas no abate, com perda média de 1,8 a 2,0kg de músculo devido à condenação de áreas lesionadas, conforme o regulamento sanitário vigente.
O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo (figura 2). O reconhecimento internacional de regiões brasileiras livres de febre aftosa com vacinação possibilitou a expansão das exportações de carne in natura para novos mercados, como países do Oriente Médio e a Rússia,. Além disso, surtos de doenças em rebanhos de outros países exportadores contribuíram para o aumento da participação brasileira no comércio global de carne bovina.
Figura 2.
Evolução anual do volume exportado de carne bovina fresca, refrigeradas ou congelada pelo Brasil.
*Até abril de 2025.
Fonte: Secex / Elaborado por Scot Consultoria.
O novo status sanitário abre portas para mercados internacionais exigentes e que pagam mais pela carne, como Japão, Coreia do Sul. Enquanto o preço médio da carne brasileira exportada para a China gira em torno de US$4,90 por quilo, o Japão e a Coreia do Sul importam carne bovina da Austrália a preços mais altos, próximos de US$8,80 e US$6,57 por quilo, respectivamente. Essa diferença evidencia o potencial de valorização do produto brasileiro atendendo esses mercados.
A expectativa é que o Brasil possa ampliar as exportações de carne. Estados como o Rio Grande do Sul e o Piauí já vêm observando aumentos no comércio interestadual e no interesse de países importadores. No Piauí, por exemplo, em 2024, o trânsito de animais para outras regiões cresceu 24% em relação a 2023 após a conquista do novo status.
A perspectiva é positiva. Com o reconhecimento oficial da OMSA, o Brasil consolidará a imagem de um país com excelência em sanidade animal, o que tende a atrair investimentos estrangeiros, ampliar os mercados de destino da carne brasileira e garantir competitividade ao agronegócio.
A conquista, no entanto, exige vigilância contínua, reforço na infraestrutura de defesa sanitária e engajamento permanente dos produtores rurais para manter o status alcançado. Essa nova fase marca não apenas um avanço técnico, mas também uma oportunidade estratégica de crescimento sustentável para a pecuária nacional.
Referências bibliográficas
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GOVERNO DO PIAUÍ. Com status de área livre de febre aftosa sem vacinação, mercado bovino do Piauí para outros estados cresce 24%. Disponível: <https://www.pi.gov.br/com-status-de-area-livre-de-febre-aftosa-sem-vacinacao-mercado-bovino-do-piaui-para-outros-estados-cresce-24/>. o em 7 de maio de 2025.
MACHADO, L. V. N.; AMIN, M. M. Impacto da febre aftosa na posição competitiva do Brasil no mercado internacional de carne bovina. Anais...XLIV Congresso da Sober., Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural, Fortaleza, 23 a 27 de julho de 2006.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA. Brasil se torna livre de febre aftosa sem vacinação. Disponível em: <https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/brasil-se-torna-livre-de-febre-aftosa-sem-vacinacao>. o em 7 de maio de 2025.
MUNIZ, J. M. Avaliação das possíveis reações adversas causadas pela aplicação da vacina bivalente contra febre aftosa em bovinos leiteiros e de corte. 52 f. Dissertação (mestrado profissional em defesa sanitária animal), Universidade Estadual do Maranhão, São Luís, 2024.
SCOT CONSULTORIA. Benchmarking Confina Brasil. 2024. 162p.
Secretaria de Comércio Exterior - Base de dados.
Fique Sabendo - Cotações de bovinos cruzados em Santa Catarina
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