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Scot Consultoria

ECR - “Relato de experiência: o que os chineses têm a nos ensinar?” c5i1y

Entrevista com: Luiz Gustavo Nussio 3p6g

Sexta-feira, 9 de maio de 2025 - 06h00
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Foto: Bela Magrela 66x5o


Durante o Encontro de Confinamento e Recriadores 2025, o professor titular da Esalq/USP, Luiz Gustavo Nussio, concedeu uma entrevista exclusiva para o CEO e fundador da Scot Consultoria, Alcides Torres. Reconhecido por sua formação acadêmica e experiência internacional, Nussio abordou sobre os dois anos em que atuou na China, coordenando um convênio entre a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Agrícola da China, em Pequim.

Durante a conversa, o professor compartilhou marcos sobre as transformações sociais, culturais e econômicas do país asiático, oferecendo também reflexões sobre a posição estratégica do Brasil no agronegócio global e as oportunidades de cooperação com a China.

Scot Consultoria: A carne bovina que o Brasil exporta para a China é distribuída em açougues e supermercados comuns, como parte da rede de varejo privada? Não há envolvimento direto do estado nesse processo?

Luiz Gustavo Nussio: Tudo é numa rede de distribuição de alta qualidade, de apresentação. Isso é realmente surpreendente. A apresentação chinesa é muito visual. Então, os supermercados são impecáveis: iluminação, limpeza... É uma coisa que nas melhores lojas que você tem no Brasil, são comuns lá.

E as carnes seguem o mesmo padrão, uma oferta bem diversificada. A carne brasileira, na sua maioria, entra como “carne grading” no processo. Nos acordos comerciais, é normal que a China tenha se interessado em comprar a carne, mais ou menos pagando na casa de US$4,5 mil a tonelada.

Mas o mercado de elite da carne bovina é de US$7,5 mil a tonelada. Esse mercado, quem explora hoje, basicamente, é a Austrália, um pouco o Japão, que têm animais de alto nível de marmoreio - isso está dentro do paladar chinês -, e conseguiram isso através da sua maneira de negociar.

Quando percebi isso, comecei a procurar onde estavam as carnes brasileiras. E não encontrava. Eu e minha esposa fomos buscando, até que um dia virei uma embalagem com um monte de coisas escritas em chinês - mais difícil ainda -, e vi o nome de uma cidade brasileira. Só que a carne tinha uma marca chinesa.

Então, foi a primeira vez que me dei conta de que o Brasil não tem marca dentro da China. Você não vai encontrar as marcas famosas do Brasil na China. Você encontra marcas chinesas que reembalaram carne brasileira. E essa carne está no cotidiano do chinês - em molhos, em carnes que não aparecem dentro de uma boutique de carne.

E isso me permite dizer uma coisa: acho que esse é um grande nicho que nós não exploramos lá. Vamos continuar vendendo essa carne para eles, mas não vendemos a carne no nicho de altos valores, com nome e marca. Na gôndola, por exemplo, os australianos têm bandeira da Austrália, têm as marcas australianas, tudo bem identificado.

E nós aceitamos explorar apenas este nicho de mercado, por enquanto. Então, nunca encontrei uma peça dizendo: "Olha, essa aqui é brasileira, com a bandeira do Brasil" etc. E a Austrália faz isso muito bem.

Scot Consultoria: Você acha que o Brasil tem oportunidade de estabelecer um relacionamento comercial bom para os chineses e bom para o Brasil?

Luiz Gustavo Nussio: Essa talvez seja a pergunta que mais me fazem: “posso confiar nos chineses?” E agora vou te apresentar aquela que é a mais inesperada: a pergunta que mais me fizeram na China foi: “posso confiar nos brasileiros?”. Portanto, a desconfiança é bilateral, por conta de um episódio de mídia. A mídia criou, nos dois lados, a prevenção, a preocupação - sobretudo por uma lógica de polarização política.

Eles se preocupam muito. Eles falavam assim para mim: "Bem, nós estamos dependendo da soja, das carnes que vocês produzem. Podemos contar com vocês produzindo e ofertando para a gente? Porque temos que olhar para a segurança alimentar".

Então, eu diria o seguinte: o Brasil tem um grande interesse em ter a China como parceiro comercial. E, independentemente das lideranças políticas que venhamos a ter no futuro, acho improvável que qualquer líder queira descontinuar negócios com a China. Seja de uma orientação política ou de outra, isso não seria inteligente.

Isso deixa os chineses muito mais tranquilos em relação a esse ponto. A grande preocupação deles é, de fato, ter garantias - garantias de segurança alimentar.

O olhar de aproximação com o Brasil, em parte, é porque eles querem trabalhar em desenvolvimento conjunto. Fazer pesquisas em agricultura, desenvolver coisas que beneficiem os dois lados. Mas, ao mesmo tempo, sem perder de vista que nós somos, antes de tudo, parceiros comerciais.

E essa é uma lacuna que eu fui lá tentar preencher. Porque, embora a pauta comercial seja riquíssima, não há praticamente nada entre as universidades do Brasil e da China. É mínima a interação entre pesquisadores brasileiros e chineses.

A entrevista completa com o professor Luiz Gustavo Nussio, está disponível no canal da Scot Consultoria no YouTube.

Luiz Gustavo Nussio z6k48

Luiz Gustavo Nussio possui graduação em Engenharia Agronômica e mestrado em Zootecnia e Pastagens pela Universidade de São Paulo e doutorado (PhD) em Animal Sciences pela University of Arizona. Atua no Departamento de Zootecnia da ESALQ desde 1988 nas áreas de Conservação de Forragens e Nutrição de Ruminantes, ocupando o cargo de professor titular. Também é líder do grupo de pesquisa do CNPq e atua como assessor da FAPESP e CAPES.

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